quinta-feira, novembro 20, 2008

Consciência Negra: A verdadeira abolição

O 20 DE NOVEMBRO TRATA DA DATA DO ASSASSINATO DE ZUMBI, EM 1665, O MAIS IMPORTANTE LÍDER DOS QUILOMBOS DE PALMARES, QUE REPRESENTOU A MAIOR E MAIS IMPORTANTE COMUNIDADE DE ESCRAVOS FUGIDOS NAS AMÉRICAS, COM UMA POPULAÇÃO ESTIMADA DE MAIS 30 MIL.
PALMARES DUROU CERCA DE 140 ANOS: AS PRIMEIRAS EVIDÊNCIAS DE PALMARES SÃO DE 1585 E HÁ INFORMAÇÕES DE ESCRAVOS FUGIDOS NA SERRA DA BARRIGA ATÉ 1740, OU SEJA, BEM DEPOIS DO ASSASSINATO DE ZUMBI. EMBORA TENHAM EXISTIDO TENTATIVAS DE TRATADOS DE PAZ OS ACORDOS FRACASSARAM E PREVALECEU O FUROR DESTRUIDOR DO PODER COLONIAL CONTRA PALMARES.
HÁ 32 ANOS, O POETA GAÚCHO OLIVEIRA SILVEIRA SUGERIA AO SEU GRUPO QUE O 20 DE NOVEMBRO FOSSE COMEMORADO COMO O "DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA", POIS ERA MAIS SIGNIFICATIVO PARA A COMUNIDADE NEGRA BRASILEIRA DO QUE O 13 DE MAIO. "TREZE DE MAIO TRAIÇÃO, LIBERDADE SEM ASAS E FOME SEM PÃO", ASSIM DEFINIA SILVEIRA O "DIA DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA" EM UM DE SEUS POEMAS.
EM 1971, O 20 DE NOVEMBRO FOI CELEBRADO PELA PRIMEIRA VEZ. A IDÉIA SE ESPALHOU POR OUTROS MOVIMENTOS SOCIAIS DE LUTA CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL E, NO FINAL DOS ANOS 1970, JÁ APARECIA COMO PROPOSTA NACIONAL DO MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO.

SER E NÃO SER

Oliveira Silveira

O racismo que existe,
o racismo que não existe.
O sim que é não,
o não que é sim.
É assim o Brasil
ou não?

Oliveira Silveira nasceu em 1941, no interior de Rosário do Sul/RS. É Professor e militante do Movimento Negro. Sugeriu e atuou na evocação do dia 20 de novembro, data lançada nacionalmente pelo Grupo Palmares, de Porto Alegre, em 1971. Publicou dez livros, dentre os quais "Banzo Saudade Negra", 1965.
  • Fontes:
    http://www.brazilianmusic.com/aabc/literature/palmares/lino.html
    http://www.mundonegro.com.br
    http://bayo.sites.uol.com.br/historicocadernosnegros.htm

terça-feira, novembro 04, 2008

Barack Obama e a concretização(?) do sonho de King


“Agora é hora de concretizar as promessas da democracia”.
(Martin Luther King, em Washington, D.C., por Trabalho e Liberdade, em 28 de agosto de 1963)

“Estas eleições não são de ‘negros contra brancos’, mas sim do ‘passado contra o futuro’”. (Barack Obama, em seu discurso na Carolina do Sul, em janeiro de 2008)

“Concluo dizendo que cada um de nós deve manter a fé no futuro”.
(Martin Luther King, na Peregrinação pela Liberdade, Washington, D.C., 17 de maio de 1957)

Não costumo falar ou escrever sobre política, mas, hoje, excepcionalmente, o faço. É dia de eleição presidencial nos EUA, e estamos – o mundo! – apostando todas as fichas na vitória no candidato democrata Barack Obama. Não somente pela razão de, se eleito, vir a ser o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos da América, mas também de trazer à tona um dos sonhos de liberdade e igualdade de Martin Luther King: “o nascimento de uma nova nação”, fortemente enraizado no ideal do “sonho americano”.

“Changing we need” é o ponto central nos discursos do senador em sua corrida à Casa Branca, visando uma nação justa. Essa mesma justiça, a que todos os americanos teriam direito - de acordo com a Constituição e a Declaração da Independência daquele país, cuja promessa era a de que todos os homens, negros e brancos igualmente, tivessem garantidos os “direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à busca da felicidade” - foi a principal motivação dos discursos do pastor, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1964.

Mais do que como estratégia política, o discurso de Obama, assim como o de King, soa como um apelo à consciência. King acreditava no triunfo de “negros e brancos, juntos” compartilhando um propósito comum. E Obama é exatamente isto: o negro e o branco, juntos!, conforme disse em um de seus discursos: "Nestas eleições não se trata de escolher segundo a região de cada um, a religião ou o gênero. Não se trata de ricos contra pobres, jovens contra velhos, nem brancos contra negros. Trata-se (de uma batalha) do passado contra o futuro".

E então a história se repete. Esperamos, neste caso, que não em sua totalidade... Martin Luther King, em 3 de abril de 1968, disse: “Bem, não sei o que acontecerá agora. Dias difíceis virão. Pois eu estive no topo da montanha”. No dia seguinte, um tiro calaria a sua voz, mas não seus sonhos e ideais.

Se dessa vez não houver “pane no sistema” na apuração dos votos, Barack Obama chegará ao topo da montanha, pois, como diria King, “seria fatal para a nação ignorar a urgência do momento”. É o momento de lembrarmos que ele tinha um sonho, e, gosto de acreditar, esse sonho está a um passo de se concretizar, nas palavras do senador de Illinois. "Sim, podemos mudar tudo isto. Podemos mudar nossa nação e construir um futuro novo". Assim seja.

Esperamos que suas ações correspondam às suas palavras.

“Oh, Deus, misericordioso Pai do Céu, ajude-nos a ver as revelações que vêm dessa nova nação”. (M. L. King, Montgomery, Alabama, em 7 de abril de 1957).

Referências:

CARSON, Clayborne & SHEPARD, Kris. (Orgs) Um apelo à consciência: os melhores discursos de Martin Luther King. Tradução de Sergio Lopes; apresentação da edição brasileira e notas de Arthur Ituassu. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.

sábado, agosto 16, 2008

Li, gostei e recomendo

"O diabo que te carregue" (romance, 2006), de Stella Florence*, é um livro de leitura fácil, descomplicada, objetiva. Com sua escrita leve e bem-humorada, a autora aborda um tema bem comum nos dias atuais: a separação de casais, que, quase sempre, não é nada amigável... É leitura bastante interessante mesmo para aquele(a)s que não estejam passando por esse difícil momento. Difícil porque uma separação nunca vem sozinha: vem sempre acompanhada de outros sentimentos nada fáceis de serem administrados... Ainda assim, dei muita risada, algumas cenas são hilárias como esta aí. Quem já passou por isso sabe que é desse jeito mesmo! ;-)
"É inevitável sentir raiva do seu ex, tanto quanto é inevitável chover em Ubatuba. Por mais que ele seja uma pessoa boa e blábláblá, agora ele é um ex-marido e ex-maridos são feitos para ser, pelo menos nos primeiros meses da separação, no máximo, tolerados. Por isso, quando seu ex te ligar para saber das crianças, ceife o sorrisinho de boa moça da sua cara, pare de mentir para si mesma e, ao desligar o telefone, grite alto o bastante para que você possa ouvir o que só a você interessa: 'Que o diabo te carregue, seu cretino!'. Com exclamação, por favor. E muito bem pronunciado, fazendo as palavras arranharem a garganta. Depois você pode experimentar variações sobre o mesmo tema. Vá comer quiabo com tofu no meio do inferno! Vá fazer a barba com gilete enferrujada no vale do Belzebu! Vá arrancar os dentes com o dr. Mefisto! Nem sempre é necessário gritar, você pode sibilar, falar fininho e em falsete coisas como: por que você não morre? Ou então: o que você acha de eu despejar um tubo de Superbonder no seu pinto? Ou ainda: você já mascou seu fardo de capim hoje, meu bem?
A não ser que você já tenha alcançado as culminâncias da santidade, é importante assumir as raivas e mágoas que sente do seu ex. Sem admiti-las como filhas legítimas da sua dor, sem reconhecer-lhes a presença, sem olhar bem fundo nos seus olhos remelentos, elas nunca vão te deixar em paz. E paz é tudo o que se quer depois de uma separação."
*Stella Florence nasceu em São Paulo (onde vive até hoje) aos 14 de abril de 1967, tem uma filha, 30 tatuagens. É autora de seis livros, são eles: Hoje Acordei Gorda (contos, 1999); Por Que os Homens Não Cortam as Unhas dos Pés? (contos, 2000); Ele me Trocou por Uma Porca Chauvinista (contos, 2001); Ciúme, Chulé e um Apelido Ridículo (romance, 2002); Ser Menina é Tudo de Bom! (crônicas, 2005), todos pela Editora Rocco.

sexta-feira, agosto 15, 2008

Poesia Afro-Brasileira Contemporânea

Vozes-mulheres
Conceição Evaristo*

A voz de minha bisavó ecoou
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
De uma infância perdida.

A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado rumo à favela.

A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.

A voz de minha filha recorre todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.



* Maria da Conceição Evaristo de Brito, nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1946. Em 1973, depois de ter concluído, em 1971, o antigo Curso Normal pelo Instituto de Educação de Minas Gerais, presta concurso no Rio de Janeiro e se ingressa no magistério público. É graduada em Letras (Português-Literatura) pela UFRJ. É mestre em Literatura Brasileira pela PUC/RJ e Doutoranda em Literatura Comparada na UFF. Esteve como palestrante em 1996, nas cidades de Viena e de Salzburgo/Áustria e, em 2000, Mayagüez, Porto Rico, falando sobre Literatura Afro-brasileira.
Seus poemas são publicados, anualmente, desde 1990, na coletânea Cadernos Negros, do grupo Quilombhoje.
Publicou dois romances intitulados “Ponciá Vivêncio” (2003) e “Becos da Memória” (2006).

domingo, agosto 10, 2008

A poesia feminina afro-brasileira e africanas de LP

Estive ausente deste espaço durante todo o mês de julho, mas foi por um motivo justo: tive de entregar o trabalho final para a conclusão do curso de pós-graduação em Língua Portuguesa. O tema do meu artigo foi a poesia feminina afro-brasileira e africanas de língua portuguesa, cujo objetivo principal era verificar o discurso comum presente entre as seis poetisas estudadas. Infelizmente, apenas uma de cada país, por absoluta falta de espaço: o texto deveria ter, no máximo, vinte e cinco páginas.

As poetisas selecionadas foram: Alda Lara, de Angola; Alzira Cabral, de Cabo Verde; Odete Semedo, da Guiné-Bissau; Noémia de Sousa, de Moçambique; Manoela Margarido, de São Tomé e Príncipe e, por fim, Conceição Evaristo, do Brasil.

Com essa pesquisa aprendi um pouco mais sobre África e sua literatura. Apesar de todos os pesares que rondam o Continente Africano há, pelo menos, cinco séculos - e mesmo agora em tempos de independência - é sempre fascinante conhecer as raízes e a cultura desses povos que os livros de História pouco, ou quase nada, revelam.

Num dado ponto da minha pesquisa, li a seguinte frase que me deixou indignada: “a mulher é o negro do mundo”. Só neste momento é que atinei para o fato de que o meu trabalho, mais do que uma pesquisa, seria um desafio. E foi.

A realização desse trabalho permitiu-me concluir, com alguma tristeza, o quão incipientes são a literatura africana e a afro-brasileira, sobretudo a produzida por mulheres...

A literatura negra contemporânea, tanto em África portuguesa como no Brasil, ainda não tem o estatuto de “literatura oficial”. Infelizmente, essa literatura ainda não é suficientemente visível e nem reconhecida – pelo menos não o tanto que merece – pelos chamados “altos círculos literários”.

A poesia negra em geral só começou a ser publicada muito recentemente no Brasil: a partir dos anos 70. Coincidentemente – ou não(?) – é a mesma época de luta pela libertação colonial em África. Nesse ponto da história, o brasileiro afrodescendente assume com mais veemência sua Negritude, direcionando seus discursos de liberdade contra um sistema de total preconceito contra esse povo.

Assim como o africano o afro-brasileiro solta a voz contra as injustiças sociais sofridas ainda pelos resquícios da escravidão – um passado que teima em não passar! – e expressa sua revolta através da poesia.

As vozes-mulheres estudadas na pesquisa apresentam em comum a recuperação da dignidade perdida, de procura e de afirmação da identidade nacional: tanto as poetisas afro-brasileiras como as africanas, cada uma a seu modo, cada uma com seu estilo próprio, com sua voz única e específica.

O discurso comum aos dois continentes, nos seis poemas analisados, é o de mulheres socialmente engajadas, em busca do “eu” mais profundo e verdadeiro, em busca de suas raízes, num mergulho nas profundezas turbulentas de um passado “hediondo”, “inconseqüente” que insiste em se fazer presente...

O sentido de africanidade também é muito presente no discurso dessas mulheres; é tema recorrente um querer “ser africana”. Escrevem uma “realidade” que se revela repleta de dor, mas também de resistência. O eco dessas vozes-mulheres, africanas e afro-brasileiras, ressoa cada vez mais forte, em busca, de uma vez por todas, de “liberdade, ainda que tardia”.

Em Nome do Pai ou Um Suspiro de Felicidade

Ela morava com seu avô e mais três irmãos. Sabia que tinha um pai. Sabia o seu nome, onde morava, como vivia. Fisicamente era magro, pele branca, estatura mediana, cabelos castanhos claro e olhos cor de mel. Podia-se dizer que era um homem até bonito, embora fosse alcóolatra. Fazia-se “presente” de vez em quando. Algumas das vezes, até sóbrio...

Comemorar o dia dos pais era particularmente difícil para aquela menina, principalmente quando na escola a professora pedia a bendita composição em homenagem aos pais. A professora, insensível à sua angústia, não atinava ao fato de que a menina não tinha uma família padrão para a época: seus pais eram, além de separados, ausentes. Como ela nunca tivera o pai dos seus sonhos – aquele dos passeios aos domingos; aquele que ela pudesse sentir que estaria sempre por perto nas situações de medo; ou, simplesmente, aquele que lhe dissesse “filha, eu sou seu pai, estou aqui, conte comigo” – sempre perguntava: “professora, posso fazer a composição para o vovô?" E, incrivelmente!!, a professora respondia: “não, tem que ser para o papai”.

A menina, então, ano após ano, fez suas composições em homenagem ao pai dos seus sonhos. Assim, satisfazia à professora - que sempre lhe dava grau máximo pelos seus textos, sem se importar se correspondia ou não à realidade – e também a ela própria: pois, ali, no papel, em suas estórias, podia “inventar” o pai que quisesse.

Mais alguns anos se passaram e, desta vez sem pressões, decidiu fazer uma verdadeira homenagem ao seu pai. Mas para qual dos dois seria? O imaginário ou o real? Isso já não era mais importante... Aquela menina crescera e escreveu uma composição que começava assim:

Era grande a alegria que eu sentia, todas as tardes, sempre às 17h, quando acompanhava papai até à padaria da esquina.

Esse momento era esperado com ansiedade durante todo o dia. Primeiro, porque papai era somente meu naquele itinerário: de casa para a padaria. Segundo, porque, perto das 17h, eu já sentia o cheiro do suspiro vindo daquela casa de pães... Nossa! uma verdadeira iguaria!

Esta era uma cena diária – pena que só acontecia de dezembro a março - nos três meses de férias que passávamos, meus irmãos e eu, com papai: eu sentava na calçada em frente à nossa casa, esperava papai chegar do trabalho, pontualmente às 16h30. Quando papai aparecia lá no início da rua, eu corria para encontrá-lo e, íamos, então, ao suspiro.

"Seu" Joaquim, o dono da padaria, fugia das características de um português autêntico: era magrinho, tinha bom humor e parecia que estava sempre feliz. Contava muitas histórias sobre papai, pois o conheceu ainda bem pequeno - papai mora, há 78 anos, na mesma casa em que nasceu!! Dizia que papai, assim como eu, gostava de comer suspiros todos os dias. Dizia, também, que o "amor" era o ingrediente principal da receita de suspiros de dona Margarida, sua esposa, já falecida, com quem aprendeu a prepará-los.

Na época não entendi muito bem, mas, hoje, tenho certeza de que as "boas energias" contidas naquele suspiro quentinho, saído do forno no exato momento em que papai chegava na esquina da padaria, é uma das minhas melhores lembranças...

A imagem da felicidade, para mim, era aquela rotina simples: papai e eu, e o suspiro quentinho da padaria da esquina.
Veronica Benesi
Belo Horizonte, 10 de agosto de 2008.

quinta-feira, junho 12, 2008

Uma Singela Homenagem aos Manos Africanos


ÁFRICA
(Aos manos Africanos)


África
O que fizeram de ti...
.
África Negra
De tantas riquezas
Quanto mal a ti
Fizeram
À tua gente
À tua beleza
.
África Incolor
- porque a alma
não tem cor -
O que fizeram a ti
Ao longo
Desse monstruoso
Holocausto
- que perdura! -
De opressão e de dor

África Mãe
O que fizeram a ti...
.
Alheios
Ao teu consentimento
Teus filhos
Foram arrancados
Do teu seio
E acorrentados
Passaram a viver
Suas Histórias de porão
Por mares
Nunca d’antes navegados
O mar da escuridão...

O mesmo mar
Que tuas lágrimas
Ajudaram a salgar
.
África Retinta
Teu tão extenso
Continente
Diz a toda a gente
Tu és Preta
Tu és Black
Tu és Negra
Tu és Branca
És Negra Assa
[1]
Tu és Fula[2]
És Mama-África
.
Estás em todos
Os lares
Em todos os Cantos
E recantos
Desses Mares
.
Mas não apenas
Os de Lusitanos ares
.
Também, aqui,
Na América do Sul
Há uma gente
Que de irmã te chama
Que é parte de ti
E do teu drama
.
Uma gente
Que se orgulha
De ter teu sangue
Nas veias
Corrente
Teus descendentes
.
Somos nós
Da Terra das Palmeiras
Onde canta o sabiá
Teus manos
De cá
Das terras Brasileiras
.
Hoje um oceano nos separa
Mas aqui deixaste
Uma herança de base
A tua fala
Estás cotidianamente
Presente
No “pirão”, na “quitanda”,
No “samba”, no “fubá”...
- “Oxalá”!
.
África Diáspora
Agora mais do que nunca
Levanta-te
Toca teu tambor
Mostra ao mundo
A Cor
Desse teu imenso
Valor
.

(Veronica Benesi) Belo Horizonte, MG, Brasil, 02 de junho de 2008.

[1] Assa (A) — o negro albino
[2] Fula (A) — de cor parda e brilhante (filha de pessoa mulata e negra)

sexta-feira, maio 30, 2008

Poesia Africana (Guiné-Bissau)

E O POETA FALOU
Odete Costa Semedo*

Falei da ambição
dos homens
era já dia
falei da paz
do grito de Angola
do homem sem rosto
da criança que virou velho

Falei do homem-bicho
outros falaram do bicho-homem
essa coisa sem cabeça
nem coração
outros e mais outros
falaram do mundo-cão
onde a ambição
fala mais alto que o coração

Clamei pelas crianças de Moçambique
vi-me nas ilhas sem nome
chorando a angústia alheia
enquanto isso
o bicho-homem
vestido de homem-bicho
caminhava para a minha moransa*

Esse homem sem cabeça
coração na planta dos pés
que a todos leva ao sepulcro
a sete pés
debaixo da terra
pisou o meu chão
calcou a minha gente
não precisava de um pelotão
apenas ter ambição nos olhos
ódio nas mãos
e tocar o bombolon** da morte

*Moransa - aglomerado de casas pertencente a uma família extensa
**Bombolon - instrumento de percussão

Do livro "No Fundo do Canto", publicado aqui no Brasil, 2007. Ed. Nandyala

*Maria Odete da Costa Soares Semedo (1959) nasceu em Bissau. Diplomada em Letras pela Universidade de Lisboa. É professora da escola de formação de professores em Bissau (Escola Normal Superior Tchico Té), e professora colaboradora da Universidade Colinas de Boé, também em Bissau. Foi Ministra da Educação Nacional e Presidente da Comissão Nacional para a UNESCO, Bissau. Investigadora Sênior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas, INEP-Bissau, foi muito recentemente Ministra da Saúde em seu país. Possui diversos trabalhos publicados em várias antologias literárias, jornais e revistas da especialidade na Guiné-Bissau e no estrangeiro.
Doutoranda em Letras na PUC Minas, contam-se, entre as suas obras publicadas, "Entre o ser e o amar" (poesia, Bissau: INEP, 1996); "SONNÉÁ histórias e passadas que ouvi contar I" (contos, Bissau: INEP, 2000) e "DJÉNIA histórias e passadas que ouvi contar II" (contos, Bissau: INEP, 2000); "No Fundo do Canto" (poesia Viana do Castelo: Edição da Câmara Municipal de Viana do Castelo- Portugal, 2003). Este último foi também publicado aqui no Brasil, em 2007, pela editora Nandyala, Belo Horizonte.

domingo, maio 25, 2008

Poesia Brasileira Contemporânea

O AMOR É CAMISA
Neide Archanjo*

O amor é camisa
que se carrega sobre o esqueleto
sem saber que por dentro
está cerzido o Tempo.

E passa o Tempo por dentro
das pedras não decifradas
dos mapas portugueses
do oceano que já foi mar
e antes rio
do assassinato do fundista solitário.

E passa o Tempo por dentro
de Publio Virgilio Marão
sonhando Enéias
de Ragusa no Adriático
dos navegantes de Urano e Netuno
de certos tons de abril
que será sempre e estranhamente
abril.

E passa o Tempo por dentro
do bisavô Affonso Donato
visitado por um anjo
no dia da sua morte.

E passa o Tempo por dentro
da Quinta Sinfonia de Mahler
das janelas de Veneza
dos 150 Salmos de Israel
e daquilo que se amou de verdade.

Passa o Tempo por dentro
desta página
como passa o incenso
por dentro do labirinto
de um relógio chinês.

*Poeta, advogada, psicóloga. Paulista, radicada no Rio de Janeiro. Estreou na poesia em 1964, com o livro "Primeiros Ofícios da Memória". Desde então, criou e participou de movimentos como "Poesia na Praça", varais de poesia, espetáculos em teatro, cafés, faculdades, bibliotecas, festivais nacionais e internacionais de poesia e arte. Criou e implantou a Oficina Literária da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. Foi bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian na qualidade de poeta residente, em Portugal. Seus poemas figuram em antologias nacionais e estrangeiras. É considerada pela crítica uma das autoras brasileiras mais significativas da geração que surgiu na década de 60. Foi assessora da Biblioteca Nacional e membro do Conselho Editorial da Revista "Poesia Sempre". Nos anos de 1980 e 2000 recebeu da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) os prêmios de poesia. Foi indicada para o prêmio Jabuti de poesia em 1995, pelo livro "Tudo é Sempre Agora". Os poemas de seu livro "Pequeno Oratório do Poeta Para o Anjo" foram gravados por Maria Bethânia. Possui onze livros publicados, sendo que "Soraya – uma princesa Sefardita" é edição bilíngüe, francesa. Em 2005, ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras. Em 2006, pela publicação de sua Obra Completa, comemorando 40 anos de poesia, obteve, pela segunda vez consecutiva, o prêmio de Poesia da Academia Brasieira de Letras, o Jabuti de Poesia e o Prêmio da Associação Brasileira dos Escritores.

domingo, maio 18, 2008

Poesia Africana (Angola)

PRESENÇA AFRICANA
Alda Lara*


E apesar de tudo,
Ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!

Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a Irmã-Mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto...

A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...

A do dendém
Nascendo dos braços das palmeiras...

A do sol bom,
mordendo o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
Salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11!... Rua 11!...) pelos meninos

de barriga inchada e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu
e corpo musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda, e sempre, nela,
aquela
Longa história inconsequente...

Minha terra...
Minha, eternamente...

Terra das acácias, dos dongos,
dos cólios baloiçando, mansamente...
Terra!
Ainda sou a mesma.

Ainda sou a que num canto novo
pura e livre,
me levanto, ao aceno do teu povo!

Benguela,1953 (In "Poemas",1966)

*Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque, nasceu em Benguela, Angola, a 9 de Junho de 1930 e faleceu em Cambambe a 30 de Janeiro de 1962. Era casada com o escritor Orlando Albuquerque. Ainda muito nova foi para Lisboa onde concluiu o 7.º ano do Liceu. Freqüentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última.
Em Lisboa esteve ligada a algumas das atividades da Casa dos Estudantes do Império. Declamadora, chamou a atenção para os poetas africanos. Depois da sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira, actual Lubango, instituiu o Prémio Alda Lara para poesia. Orlando Albuquerque propôs-se editar-lhe postumamente toda a obra e nesse caminho reuniu e publicou um volume de poesias e um caderno de contos. Colaborou em alguns jornais e revistas, incluindo a Mensagem (CEI).
Da sua obra poética destacam-se «Poemas» (1966, Sá de Bandeira, Publicações Imbondeiro), «Poesia» (1979, Luanda, União dos Escritores Angolanos), «Poemas» (1984, Porto, Vertente Ltda, poemas completos).

Fonte: www.sanzalangola.com

domingo, maio 11, 2008

Mãe x Tempo

Estava procurando uma gravura para anexar a esta mensagem que quero dedicar a vocês pelo Dia das Mães. Há uma infinidade de imagens de mães com suas crias. Imagens lindas em telas maravilhosas, que nos remete a uma singeleza singular, como um padrão do que é SER MÃE.

Escolhi, então, uma imagem menos canônica... Penso que, todas nós, mulheres contemporâneas, somos melhor representadas pela imagem do tempo, já que os tempos são outros. Há uma lacuna muito grande entre as mamães de séculos e décadas passadas e as mamães de hoje. É difícil conciliar o tanto de coisas que temos de fazer - e com perfeição! Não nos damos ao luxo de sermos imperfeitas! Embora vivendo nesta época em que a velocidade é soberana, e reina a facilidade de valores cada vez mais descartáveis.

Mas, ainda assim, nestes tempos modernos, de sentimentos conflitantes, há um sentimento que nunca será caracterizado como passageiro: o Amor Incondicional que uma mãe é capaz de oferecer.

Por isso, acho que tanto a imagem de Maria, mãe de Jesus, como a imagem do relógio (representando, aqui, a mãe faz-tudo dos dias atuais) pertencem ao mesmo campo semântico do SAGRADO...

Feliz Dia das Mães!!!

sábado, maio 10, 2008

Poesia Afro-Brasileira Contemporânea

RESGATE
Alzira Rufino*

Sou negra ponto final
devolvo-me a identidade
rasgo a minha certidão
sou negra
sem reticências
sem vírgulas
sem ausências
sou negra balacobaco
sou negra noite cansaço
sou negra
ponto final


*Na 3ª. série do Ensino Fundamental, Alzira Rufino recebeu seu primeiro prêmio de redação. Aos 14 anos, escrevia textos infantis para peças encenadas na escola. Aos 18 anos, num concurso de redação para funcionários da Santa Casa de Santos, foi a primeira colocada e recebeu prêmio, em dinheiro, do Banco Francês que patrocinou a atividade.
Lançou, em 1986, o Coletivo de Mulheres Negras da Baixada Santista.
Madrinha do Bloco Infantil Maria Infância com Crianças do Bairro do Mercado-Em 1987, criou o Coral Infantil Omó Oyá. Em 1988, criou o Grupo de Dança Afro Ajaína. Em 1990, fundou a Casa de Cultura da Mulher Negra.
Foi a primeira escritora negra a ter seu depoimento gravado no Museu de Literatura Mário de Andrade, em São Paulo, SP. Convidada da III Feira Internacional do Livro Feminista, realizada em 1988, no Canadá, onde participou de um painel internacional de escritoras negras e lançou o livro de poemas "Eu, mulher negra, resisto”, de sua autoria. Convidada da V Feira Internacional do Livro Feminista, na Holanda (l992) e da Feira do Livro em Paris (1993).
Profissional de saúde (enfermagem). Ativista e articulista do movimento negro e do movimento de mulheres. Coordena, desde 1990, um serviço de apoio jurídico ,e psicológico na Casa de Cultura da Mulher Negra, que atendeu, anualmente, cerca de 500 pessoas vítimas de violência racial, doméstica e sexual
Convidada de vários países como França, México, Canadá, Perú, Panamá. Equador, Chile, EUA, Inglaterra, Alemanha, India, Bélgica, África do Sul, Áustria, Itália e Holanda dando consultoria, capacitação, palestras sobre Violência Racial, Doméstica e Sexual, tendo um destaque na consultoria, avaliação e assessoria para Agências Internacionais em projetos de Casas Abrigo e Violência contra a Mulher na área rural em África do Sul nos anos de1997 e 1998. Editora da Revista Eparrei, criada em novembro de 2001, de periocidade semestral.
Publicações:
– Artigos em jornais da Baixada Santista, no Estado de SP e em revistas do Brasil, dos Estados Unidos, Canadá, Grã- Bretanha, Índia, França, Chile, Senegal e Holanda.
– Livros:
. Co-autora de Mulher negra tem história: Santos, SP; ed. Autora, 1987; O Livro da Saúde das Mulheres Negras. Jurema Werneck, Maisa Mendonça e Evelyn C. White (Org.) Pallas, 2000; Antologia “Finally us, publicação bilíngüe português/inglês”, com poetas negras do Brasil.
. Autora de: Mulher negra, uma perspectiva histórica: Santos, SP; ed. autora; 1987; Eu, mulher negra, resisto: Santos, SP; ed. ed. autora; 1987; Poesia: Muriquinho piquininho: Santos/SP; ed. Autora, 1989 (ficção para crianças); O poder muda de mãos não de cor: Santos, SP; ed. Autora, 1996; (estudo comparativo sobre a situação da mulher negra e da mulher branca na área de trabalho, educação e participação política), e Qual o quê! (ficção), ed. Autora.
Indicada ao Prêmio Mil Mulheres para o Nobel da Paz em 2005 Título de Cidadã Emérita da Cidade de Santos, Medalha de Mérito da Câmara Federal dos Deputados. Agraciada com cerca de 98 medalhas, Menção Honrosa e Diplomas incluse de Embaixadora da Cultura Negra pela OAB e PMDB-Santos Diploma de Mulher Negra Internacional pelo IBPN-Honra ao Mérito da Câmara Municipal de Ribeirão Pires-Troféu Mulher Destaque da Igreja Batista-Igreja Adventista -Diploma da Intecab-Baixada Santisa-.Homenagens das Mulheres na Africa do Sul-Cabo Verde-Moçambique-Angola-Londres-Paris -Homenagem do Clube Soroptimista Internacional de Santos como Mulher Destaque - Área Direitos Humanos/Status da Mulher .
2008-Livro :Eu Mulher Negra Insisto e não Desisto-(No Prelo)
• Foi tema de tese de doutorado de Dawn Duke, do Department of Hispanic Languages and Literatures, University of Pittsburgh, USA: "Alzira Rufino’ s Casa de Cultura da Mulher Negra as a form of female empowerment: a look at the dynamics of a Black Women’s organization in Brazil today”, 2003.

segunda-feira, maio 05, 2008

Um Cordel de Despedida

Aos professores e alunos
Do curso de Língua Portuguesa
Este cordel presta singela homenagem.
Trocamos experiências, quanta riqueza!
Aprendemos muito.
Mas não foi moleza!

"Que turminha boa, essa".
Ouvimos de quase todos os professores.
Era o que dizia a Cida,
E demais colaboradores.
E é a mais pura verdade,
Que se ouvia até pelos corredores.

Desde o primeiro encontro,
Foram sábados especiais.
E durante todo este ano
Nossa turma foi demais.
Houve logo entrosamento
E também cansaço, sono e tudo o mais.

Danada de competente,
Tivemos a Cida.
Muitas vezes ouvia: "Professora, libere a gente."
Mas não se dava por vencida
Dizia sempre:
"Vamos cuidar da vida".

Não podia ficar fora desta
Outra mestra: a Idalena.
Aprendemos um bocado
Com suas aulas plenas.
Quando acabou seu tempo
Foi, realmente, uma pena.

Com Zélia Versiani
Aprendemos leituras cruzadas.
Suas aulas especiais,
Primorosamente ministradas,
Com palavras e imagens geniais,
Eram, por todos nós, muito esperadas.

Delaine, também,
"Mandou bem o seu recado".
Como se costuma dizer
No sentido figurado.
Em suas aulas
Realizou um bom trabalho.

A mestra Consuelo falou sobre
O ensino de Gramática.
E também os passos de uma Resenha,
Na prática.
Os resultados, porém,
Deixaram-na apática!

Mas a vida de educador é assim...
E com o "seu" Bakhtin,
Veio, então, a Maria Ângela.
Aprendemos, enfim:
Gêneros textuais
É universo sem-fim.

Falemos, agora, do Gilcinei.
Entre subentendidos, pressupostos e dêiticos temporais,

O mestre da vez
Dava exercícios demais,
Que para o trabalho final
Foram vitais.

Juan Pablo
Para análise do discurso.
Nesta disciplina,
Quase fiquei no meio do percurso...
Vou tentar recuperar
No trabalho de final de curso.

Aprendemos com Carla Coscarelli
Que a tecnologia é sedutora,
E muito contribui para que a Educação
Se torne cada vez mais promissora.
Infelizmente, há quem a considere
"Adeus, professor; Adeus, professora".

Já ao final do curso tivemos a Else na Reescrita:
Uma das minhas disciplinas favoritas.
Consuelo, então, "pega carona"
E solicita:
"Revisemos as resenhas nas aulas da Else",
Ela habilita!!

Chegou, para o projeto de pesquisa,
A Tereza,
Que não tinha entrado na história.
Suas aulas, com certeza,
Muito nos ajudaram,
A concluir o projeto com clareza.

E, para todos nós,
Desejo um Feliz Natal.
E que se desatem todos os nós
Para um Ano Novo especial.
Querida turma da Pós,
Juntos, fomos fenomenais!


(Veronica - 16/DEZ/2007)

domingo, maio 04, 2008

O começo

Há dois “pontinhos”
Pulsando
Dentro de mim
Grávida
A Vida
Convida
Juliana e
Clara

Agora
Vejo luz nos olhos de Clara
Esperança nos olhos de Juliana
Nasceram unidas
Do ventre
Para a vida
Essas meninas
Minha Luz
Infinita
Minha vida
Reavida
Bem-vindas
Filhas
Tão, tão, Queridas

(Veronica - Jan/1999)

O computador e eu...

Achava que ter um blog era um bicho de sete cabeças. Não é. E aqui estou: conectada ao mundo!

O computador e eu nos conhecemos em 1990, quando trabalhava como secretária de diretoria, num escritório jurídico. A partir daquele momento tínhamos de trabalhar juntinhos, full time! Confesso que não foi nada fácil. A relação não era nada amigável da minha parte. Ele ficava ali, coitado, o tempo todo disponível, só esperando por um "carinho" meu. Relutei muito em aceitá-lo na minha rotina.

Na minha sala, tinha uma máquina de escrever "Olivetti", preta, linda, elétrica, de ultimíssima geração!!! Ela, sim, entendia perfeitamente a velocidade que eu precisava em meu trabalho.

Como a empresa investiu pesado naqueles novos equipamentos (computadores e impressoras) a chefia toda queria que fossem utilizados. Passaram a ser a menina dos olhos de todos naquele escritório. Aos meus olhos, porém, a "minha máquina" era ainda a melhor tecnologia. Mas, por ordens expressas e supremas, eu "tinha" de passar a trabalhar com "aquela coisa". Ô tempos difíceis aqueles! O papel sempre agarrava na impressora! Sim, porque não se usava papel "normal". Usávamos o que era chamado de formulário contínuo. Além disso, eu também tinha "problemas" no teclado: quase enlouqueci com tantos efes (do F1 ao F12!!) até decorar suas funções!

O mais engraçado dessa história é que eu sentia que aquela nova rotina, a qual eu "tinha" de me adaptar, parecia uma batalha - no exato sentido desta palavra. Era como se nós dois - aquela inovação tecnológica e eu - guerreássemos o tempo inteiro. Aquela nova máquina parecia brincar com a minha competência o tempo todo. Usando "aquilo" eu nunca conseguia entregar meu trabalho no prazo determinado.

Daí, voltei a teclar a minha boa e velha "Olivetti". Velha???!! Sim. Àquela altura do campeonato ela já era - definitivamente - obsoleta... Depois que voltei a usá-la percebi que a nossa relação tornara-se meio estremecida. Tentei fingir que estava tudo bem entre nós; que aquele "casamento" ainda seria possível. Mas os sentimentos já não eram os mesmos, pois já conseguia ver com bons olhos, por exemplo, o backspace ou delete do teclado do computador quando tinha de apagar uma letra ou frase ou até mesmo parágrafos inteiros de um texto. Vocês conseguem imaginar o tamanho da minha felicidade ao descobrir que não mais precisaria usar aquela folha de corretivo em pó? Não. Quem não é dessa época não pode dar a dimensão exata do que representou essa descoberta para mim.

Pude, finalmente, entender que tudo o que eu precisava para conseguir operar aquela "maravilha" era ter apenas um pouco de paciência, e estar aberta às mudanças que acompanham toda novidade. E o melhor de tudo isso foi ter entendido, também, que a máquina de escrever não deixou de existir, mas, apenas, ganhou um outro formato. Evoluiu. Assim como todas as invenções evoluem. Há sempre um "novo" a surgir.

Hoje, não trabalho mais como secretária. Sou educadora quase especialista em Língua Portuguesa com ênfase em Produção de Textos. E para seguir essa carreira, além de ensinar, há que se saber aprender. Pôr-se no lugar de aluno. Atualizar-se. E, nisso, a tecnologia digital é grande aliada. Nós, profissionais de educação, em qualquer área do conhecimento - mas principalmente os de língua materna – precisamos utilizar essa poderosa ferramenta. Precisamos aproveitar em sala de aula todos os benefícios que a tecnologia da comunicação vem oferecendo a todos nós.

Como vocês podem notar, eu também evoluí. Ao adquirir as habilidades necessárias para lidar com o "meu" computador, ficou muito claro, para mim, que jamais nos separaríamos.

Belo Horizonte, 30 de outubro de 2007

O que significa a palavra "blog"?



Pois é. Estava eu, ontem, à beira da piscina, conversando com uma amiga querida, Paula "Pastora", e toda orgulhosa falei que, agora, também estou "blogando". Paulinha ficou logo curiosa para saber o endereço do meu blog e tudo o mais...

Fazemos juntas uma pós-graduação em Língua Portuguesa, e, como minha amiga é bastante curiosa – no melhor sentido dessa palavra – inteligente e está sempre antenada, prontamente perguntou: O que significa blog? Gente!! Eu não sabia!!! Fui pesquisar e aí está, viu, Paulinha?

'O que significa blog?' Blog é a contração da expressão inglesa weblog. Log significa diário, como o diário de um capitão de navio. Weblog, portanto, é uma espécie de diário mantido na internet por um ou mais autores regulares. Normalmente apenas um, algumas vezes dois ou três, raramente mais que três. O primeiro blog surgiu em 1999. Mais ou menos. Há hoje mais de quatro milhões de blogs. Pense nisso. De um a quatro milhões em cinco anos." (HEWITT, Hugh. Blog: Entenda a Revolução que vai mudar seu mundo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2007)
(Veronica - OUT/2007)