segunda-feira, março 16, 2009

"Podres Poderes", música de Caetano Veloso

Essa música foi lançada há exatos 25 anos, mas seu tema é sempre recorrente e atual.

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais...

Queria querer gritar
Setecentas mil vezes
Como são lindos
Como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais...

Será que nunca faremos
Senão confirmar
A incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que esta
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval...

Queria querer cantar
Afinado com eles
Silenciar em respeito
Ao seu transe num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau...

Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais
Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais...

Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo
Indo e mais fundo
Tins e bens e tais...

Será que nunca faremos
Senão confirmar
Na incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que essa
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...

Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades,
Caatingas e nos gerais...

Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...

Enquanto os homens
Exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais
Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo...

Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!

domingo, março 15, 2009

"Incoerência católica"

"Os males que a igreja causa em nome de Deus vão muito além da excomunhão de médicos".
Simplesmente fantástica a posição do Dr. Drauzio Varella, em seu artigo Incoerência Católica, publicado no jornal Folha de São Paulo, sobre a posição da igreja no caso da menina de 9 anos, que vinha sendo, por três anos!, molestada sexulamente pelo padrasto até conseguir engravidá-la de gêmeos.
No texto, como sempre, impecável, o doutor aponta sua indignação não somente como médico, mas também --e sobretudo-- como ser humano. E humanidade foi exatamente o que faltou à igreja...
Tudo já foi dito sobre esse assunto. Quero apenas deixar claro (para quem leu o post de 09/03) que a excomunhão em si, para mim, nada significa. Absolutamente nada. A indignação é pela falta de "cuidados" (para ser bem amena) de um legítimo(?) representante de Deus, para com sua comunidade.
(Conheça o autor)

segunda-feira, março 09, 2009

Os pecados da Santa Igreja


Estou, infelizmente, por várias razões, algum tempo afastada deste espaço. Gostaria de voltar, neste dia dedicado à mulher, postando um poema ou qualquer outro tipo de expressão artística, que é ao que se destina este blog.

No entanto, hoje, no Dia Internacional da Mulher, preciso registrar minha indignação sobre o caso da menina de 9 anos!!, violentada sexualmente e engravidada de gêmeos pelo padrasto, na cidade de Alagoinha, interior de Pernambuco. O monstro, que molestava continuamente a menina desde seus 6 anos e também a irmã de 14 – deficiente física e mental –, ainda teve a ousadia de dizer que as meninas o “provocavam”!

Sabemos que monstruosidades como essa acontecem, todos os dias, pelo mundo afora. Mas este caso, em especial, horroriza não apenas pela crueldade de um crime hediondo, como também pela atitude, no mínimo, pecaminosa da Igreja Católica: fielmente representada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungou a mãe da menina por ter permitido interromper a gravidez da filha.

Sendo que os médicos que acompanharam o caso concluíram que somente o aborto salvaria a vida daquela criança subnutrida e franzina. Isso sem contar que, tendo (apenas!!) 9 anos, e, portanto, com os órgãos ainda em formação, não suportaria carregar mais duas crianças em seu pequenino ventre.

Mas essa, ainda, não era uma razão suficientemente forte para a Santa Igreja Católica que, na pessoa de dom José, puniu também os médicos pelo crime de aborto. (É importante dizer que, em momento algum, dom José sequer mencionou o estuprador). Para dar a “última paulada”, num comentário aterrorizador, disse ainda que o crime de aborto é pior do que o de estupro.

Diante desse absurdo, fico aqui me perguntando: para quem, neste caso, o crime de aborto é pior? Quem determina isso? É Deus? Ou são os homens da Santa Igreja?

Não discuto a posição da Igreja ser contrária ao aborto. Envolve princípios. Mas temos de pensar, antes de tudo, que cada caso é um caso. Temos de pensar e agir, antes de tudo (uma vez que a menina corria risco de morrer) com misericórdia. Não é isso que prega a Igreja? Neste caso, ao excomugar mãe e equipe médica, a Igreja Católica, mais uma vez na sua história, transgrediu suas próprias leis. E, pecou.