segunda-feira, junho 27, 2011

SACIEDADE DOS POETAS VIVOS - VOL. XII


 vol. 12 - POEMAS DEDICADOS

(clique  AQUI  para ler o livro)


Lançado hoje, 27/06, o volume XII da Antologia Digital Saciedade dos Poetas Vivos, cujo tema é 'Poemas Dedicados'.

Participei do volume X com o tema 'Beijos', e tenho a grata satisfação de mais uma vez fazer parte desse belo projeto realizado pela Editora Blocos.

Admiro muito a dedicação e empenho incansáveis de Leila Míccolis e Uhracy Faustino, os organizadores da Saciedade, por realizarem um trabalho que dá visibilidade aos poetas iniciantes e ainda mais solidez aos já consagrados.

Parabéns a todos!

quarta-feira, março 16, 2011

ENCONTRO




Um encontro 
Um olhar 
Um sonho 
E o medo 
            de amar
 
Um passeio 
Um gesto 
Um anseio
Um afeto 
E o desejo 
            de amar 
 
Um estrangeiro 
Um sim 
Um presente
Um homem inteiro
Enfim
            para amar 
             
Um pedido
Uma esperança 
Um só destino 
Uma aliança
Uma corrente 
E o compromisso 
                        de amar

Uma lua-de-mel 
O mar
Um limite 
O céu 
Um anel 
O altar

O sentimento 
O infinito 
O olhar atento
O ninho 
E o casamento 
                        pleno

(VB) 

terça-feira, março 15, 2011

SONETINHO PARA CLARA E JULIANA

 

Tema de poema, ter ou não filhos,
É uma questão pra lá de enjoadinha.
Tal como um trem sem os devidos trilhos,
Impossível a vida sem Clarinha.

Viveria vida vã; sem rastilhos,
Se não fosse minha Julianinha
A dar tanto encantamento e rebrilhos,
Tal como Sininho, à vida minha.

Ter ou não ter filhos? Eis a questão...
Foi quando um anjo torto disse assim:
Que de uma assistida inseminação,

Clara e Juliana viriam, enfim.
O milagre da vida se fez então!
Sempre soube o danado querubim.
 (VB)

quinta-feira, março 03, 2011

À TODAS AS MULHERES DO MUNDO: FELIZ DIA 08 DE MARÇO!

 
Flores da Praça da Liberdade, BH

MARIA

E agora, Maria?
Você que hoje em dia
Faz seu próprio destino
E entre atinos e desatinos
É você quem decide se procria

Você que não dá conta
De ser apenas uma
Você que se desdobra
Em suas várias Marias
Você que é mulher
É mãe e é filha
Você que é amiga
Que é companheira
Você que é vadia
Que é submissa
Você que é guerreira
Da noite e do dia.
E agora, Maria?

Você que faz suas preces
Coração em agonia
Roga à Nossa Senhora
Voltem sãos e salvos
Seus filhos
Da batalha do dia-a-dia
Da labuta no asfalto
Onde vendem suas balas
Defendem algum trocado.

Você que se arma de coragem
No prazer ou na dor
Que vive na eterna batalha
De provar o seu valor
Você que dá à luz
Neste mundo de trevas
Que é dona do seu corpo
Mas é jogada às pedras
Ao mínimo gozo.
E agora, Maria?

Você que é da vida
Você que é dádiva
Você que é dama
Você que é fálica
Você que é do povo
Você que é do mundo
Que é de programa
Você que não faz drama
Você que não é nada.

Você que perpetua a espécie
Tem seus direitos restringidos
Você que tem sede de justiça
E mais do que isso:
Enfrenta quem lhe discrimina
Você que não se rende
Às diferenças de gênero
Você que é a própria Vênus
Que é beleza, amor, aconchego
Que supera a miséria do mundo
Você que dá o peito
Que alivia da fome
Você que tem nome
Você que é Maria

(VB)

Inspirado no poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

OS AMANTES

 

OS AMANTES

No embate de corpos
do fogo que arde
sob os lençóis
em posições oblíquas
os amantes lançam sua sorte
enquanto o amor invade
em seus estados de morte
em generosas doses fluidas
(VB) 

sábado, fevereiro 26, 2011

SINA


SINA

Estava à toa na vida
À beira da piscina
Observava pessoas
Indo e vindo

Julietas sem Romeus
Em seus minúsculos biquínis
Conversavam sobre com quem farão
A próxima lipoaspiração...

Valha-me Deus!
Estão fatigadas as minhas retinas
Eu aqui em busca de uma rima
Paro e penso:
Será essa minha sina?
 
 (VB)

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Inquietude

Mudar de estado

Mudar os desejos

Mudar os abraços

Mudar os beijos

Mudar os espaços

Mudar a dança

Mudar os compassos

Mudar os passos

Mudar os laços

Desatar os nós...

(VB)


sexta-feira, dezembro 10, 2010

Feliz Natal

("Natal Brasileiro", de Raimundo Nonato Oliveira)

NATAL

Mais um 25 de dezembro,
mais um Natal.
mais um ano, Cristo,
que nós, teus irmãos,
comemoramos teu nascimento
de modo quase obsceno!

Porque é Natal,
em teu nome
há uma corrida louca
ao centro comercial
em busca de presentes
que trocamos com os amigos,
com os parentes.
Sendo que muita gente
o significado desse ato
desconhece.

Porque é Natal,
há também os comes e bebes,
mas nada de simples croquetes,
frango assado ou espaguete.
Pelo menos, o peru e o bacalhau
são esperados...

Mas é Natal
e nessa epifania,
católicos ou ateus,
poucos atinam
que é teu o dia.

E então é Natal.
Mais um ano, Jesus,
que nós, teus irmãos,
ao te ver na cruz,
dizemos com muito orgulho,
e pouca reflexão...
- Nasceu para salvar o mundo,
esse menino!
Mas nesse mundo sem razão,
mesmo para o Divino
é tarefa assaz difícil
comungar guerra, paz e pão.

Há um Cristo, Jesus,
em cada um de teus irmãos
que sofrem as mesmas injustiças,
maus-tratos, ciladas,
e tantos e variados enganos,
sem teto, sem nada.
Sem alimento para o corpo
ou para a alma
cada um carrega sua pesada cruz.

Mas é Natal, afinal!
Tentamos todos seguir,
sem muita convicção, devemos admitir,
Tua doutrina de ética e de redenção.

Teremos nós, teus irmãos, alguma salvação?

(VB)

quinta-feira, novembro 18, 2010

Consciência Negra: para além da cor da pele...


“Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro...”

Gilberto Freyre,
Casa Grade e Senzala

sexta-feira, outubro 22, 2010

“As mulheres africanas tecem a vida”


Na África varrida pelas guerras, as mulheres sofrem as penas dos pais, dos irmãos, dos maridos, dos filhos destinados ao massacre e sabem, ainda, acolher os pequenos que ficam órfãos.
“As mulheres africanas tecem a vida”, escreve a poetisa Elisa Kidané da Eritréia.
Sem o hoje das mulheres, não haveria nenhum amanhã para a África.

Em virtude de toda essa luta e para reconhecer o papel de todas elas é que surgiu a proposta de lançar uma Campanha Internacional para dar o Prêmio Nobel da Paz de 2011, a todas as mulheres africanas. Trata-se de uma proposta diferente, já que esta não é uma campanha para atribuir o Nobel a uma pessoa singular ou a uma associação, mas sim, um Prêmio Coletivo, a todas essas guerreiras.

(Aqui)

terça-feira, outubro 12, 2010

Dia das Crianças


Escolhi este poema da minha poeta preferida, Cecília Meireles, numa homenagem a todas as crianças do mundo e a sua extraordinária capacidade de sonhar, independente da realidade em que vivem...


A Bailarina
Cecília Meireles


Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para lá e para cá.

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.

(Do livro Ou Isto ou Aquilo. pp. 24)

UM POETA E UM POEMA (9)

Vera Duarte nasceu em Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, em 1952. É juíza desembargadora e foi ministra da Educação. Dentre os prêmios literários, destacam-se Tchicaya U Tam'si de Poesia Africana 2001 e o SONANGOL 2003 pelo romance "A Candidata". Publicou em poesia "Amanhã Amadrugada" e "O Arquipélago da Paixão", entre outros artigos e ensaios.

(Informações tiradas daqui.)
(Foto daqui.)



Momento VI
(desabafo)

Vai e grita pelas achadas imensas
que a vida se conquista
contra a violência e a morte.

Diz
do amor que brota das areias
do mar solitrário
do abraço fecundo que nasce
dos confins de nossos seres.

Diz tudo
mas não digas que te amei
-- e amo --
pois chega-me a morte pela recusa.
Não quero morrer duas vezes!

(In, Poesia Africana de Língua Portuguesa: antologia. I Dáskalos, Maria Alexandre. II Apa, Livia. III Barbeitos, Arlindo. - Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2003. pp. 167) 

domingo, outubro 10, 2010

Pense nisto...

"A loucura é vizinha da mais cruel sensatez. Engulo a loucura porque ela me alucina calmamente. O anel que tu me deste era de vidro e se quebrou e o amor não acabou, mas em lugar de, o ódio dos que amam."

Clarice Lispector



(In, "Tempestade de Almas", do livro Onde Estivestes de Noite. Ed. Rocco, 1999, pp. 91)

quarta-feira, outubro 06, 2010

FLIPORTO 2010


foto daqui


O COMEÇO

Há dois pontinhos
pulsando
dentro de mim
Grávida
a vida convida
Juliana e Clara

(VB)

Esse poema fará parte de uma coletânea dos cem melhores poemas escolhidos neste concurso.

quarta-feira, agosto 04, 2010

"SOB O SIGNO DO AR"



Imagem disponível no Google Imagens

“SOB O SIGNO DO AR”
(para Christina Ramalho)

Sob o signo do ar,
filha de Dédalo,
irmã de Ícaro,
– mas não tão louca! – é ela quem diz.

Chris tem algo de pássaro.
Abre suas asas,
pousa de galho em galho.
Segue feliz.

Chris tem algo de Sininho.
Seu sorriso sincero
é seu pó de pirlimpimpim,
que generosamente espalha,
e, a todos, assim,
encanta por onde passa.

Chris tem algo de borboleta.
Na leveza de suas asas
carrega cores variadas.
Entre tintas e pincéis
ou “bordando palavras”,
semeia ao vento matizes
profundas e delicadas.

Outrora em voos rasantes
entre Natal e Rio,
ou os mais ousados,
para além do Brasil.

Na Espanha, emprestou aos mares e céus
todo azul dos olhos seus.

Sempre pronta para voar,
tinge agora os céus de Sampa
todo azul do seu olhar.

(VB)

BH, agosto/2010

domingo, junho 13, 2010

UM POETA E UM POEMA (8)

Maria Manuela de Abreu Maia nasceu em 1939, em Bela Vista, Huambo, Angola.

Em 1975 mudou-se para Portugal. Para além de funcionária pública, Manuela Abreu colaborou em "Panorama de Artes e Letras" do Diário de Luanda, em "Artes e Letras" d'A Província de Angola e "Convergência" de Ecos do Norte. Publicou, em 1994, o livro de poesia Em Cada Manhã de Longe. (Informações tiradas daqui).

E Pede o Silêncio

Espero na praia
as ondas, a espuma
e chagam-me conchas,
presentes de bruma
e barcos azuis
com lemes de além
destinos de praia
e de olhos também.

E a noite me vê
ainda a esperar
que tragam poemas
dos livros do mar
teus barcos azuis
que chegam agora
à praia dos olhos
à praia que chora.

E pede o silêncio
urgente que saia
dos olhos de barco
meu corpo de praia.

(In Cadernos Sol n. 12. Coletânea de poetas e poesia de Angola. Caxinde Editora e Livraria. 2002).


quinta-feira, junho 10, 2010

SACIEDADE DOS POETAS VIVOS


Lançado oficialmente hoje, 10 de junho, mais um "Saciedade dos Poetas Vivos". Trata-se de uma Antologia Digital, já em seu décimo volume!, publicado pela Editora Blocos. Sendo uma temática diferente para cada volume, o tema da vez -- às vésperas do Dia dos Namorados-- não podia ser outro: "Beijos".

Conforme dizem os prefaciadores (e também editores de Blocos) Urhacy Faustino e Leila Míccolis "Beijos de todo o jeito e tipo e modos e maneiras: de saudade, de alegria, de tristeza, de Judas, de partida, de chegada, de rompimento, de adeus, roubado, tímido, falso, amargo, indiferente, calculista, formal, romântico, real, sonhado, respeitoso – na testa – o apressado selinho, o ardente, o indesejado, o mordido, o de amigo, o evitado, o de mãe e filho, e tantos mais.

Melhor, porém, é adotarmos aqui o pensamento de Dalton Trevisan: "Não fale, amor. Cada palavra, um beijo a menos". Por isto, sejamos breves, pois quanto mais falarmos de beijo, mais adiaremos o prazer por parte do leitor de ser beijado pela poesia."

Neste volume, participam, além de mim, 16 autores.

Agora é só acessar aqui e boa leitura!

domingo, junho 06, 2010


Teus beijos
ora suaves, ora intensos
exploram montes, grutas
e relevos
do corpo que arde
e explode
ao sabor dos teus beijos

(VB)

sábado, maio 08, 2010

Feliz Dia das Mães!


Para sempre
(Carlos Drummond de Andrade)

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

terça-feira, abril 20, 2010

UM POETA E UM POEMA (7)

CRISTIANE SOBRAL nasceu no Rio de Janeiro, em 1974, e reside em Brasília desde 1990. Como escritora, possui poemas e contos publicados na Antologia Cadernos Negros, edições 23, 24, e 25. Graduada como atriz habilitada em Interpretação Teatral pela Universidade de Brasília, sendo a primeira negra a ganhar o título acadêmico.
          Trabalha preferencialmente a poética do amor, da desrepressão e do acesso à consciência. Sua poesia inspira-se na experiência, na observação do comportamento, na mudança de atitude.

Fratricídio
(Cristiane Sobral)

Corrupção preta dói demais
Chibatada dentro da senzala fere infinitamente.
Até tu, Zumbi?
Espera aí, Feitor!
"Pouca tinta", eu?

Separe todos os matizes da negritude brasileira
Desintegre todas as identidades
Ficaremos com um nada aguado.
O mestiço não é nem o sim nem o não, é o talvez.
Mentira!

Pergunte ao porteiro da prédio
Interrogue o policial
Eles não terão dúvida em apontar a consistência da
minha melanina.

Sou negra
Meus dentes brancos trituram qualquer privilégio
retinto
Meu sangue negro corrói a hipocrisia parda
Mela o mito da democracia racial
Corre maratonas libertárias negrófilas
Rasga as entranhas e reluz.
Das cinzas à fênix.

No fundo do olho há uma verdade viva
Muito além da cor.

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Lente de Contato

Será que você pode olhar no fundo dos meus olhos?
Será que você pode acreditar na sua visão?
Esquece o que o seu pai disse,
Vê se muda essa situação.

Sou negra!
Estou aqui diante dos seus olhos,
Esperando você despir o seu preconceito,
Pra gente encontrar um jeito de ser feliz.

Ah, o meu cabelo natural, isento de culpa?
Vai bem, obrigada.

Que bom você ter sido espetado pela consciência,
Que bom você ter sido cutucado pela consistência.

Será que dá pra você tirar essa lente distorcida,
Que tanto atrapalha o nosso contato?

In: Cadernos Negros Volume 29: poemas afro-brasileiros. pp 51 e 52 / organizadores Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2006.

Foto e informações bibliográficas tiradas daqui e daqui.