sexta-feira, maio 30, 2008

Poesia Africana (Guiné-Bissau)

E O POETA FALOU
Odete Costa Semedo*

Falei da ambição
dos homens
era já dia
falei da paz
do grito de Angola
do homem sem rosto
da criança que virou velho

Falei do homem-bicho
outros falaram do bicho-homem
essa coisa sem cabeça
nem coração
outros e mais outros
falaram do mundo-cão
onde a ambição
fala mais alto que o coração

Clamei pelas crianças de Moçambique
vi-me nas ilhas sem nome
chorando a angústia alheia
enquanto isso
o bicho-homem
vestido de homem-bicho
caminhava para a minha moransa*

Esse homem sem cabeça
coração na planta dos pés
que a todos leva ao sepulcro
a sete pés
debaixo da terra
pisou o meu chão
calcou a minha gente
não precisava de um pelotão
apenas ter ambição nos olhos
ódio nas mãos
e tocar o bombolon** da morte

*Moransa - aglomerado de casas pertencente a uma família extensa
**Bombolon - instrumento de percussão

Do livro "No Fundo do Canto", publicado aqui no Brasil, 2007. Ed. Nandyala

*Maria Odete da Costa Soares Semedo (1959) nasceu em Bissau. Diplomada em Letras pela Universidade de Lisboa. É professora da escola de formação de professores em Bissau (Escola Normal Superior Tchico Té), e professora colaboradora da Universidade Colinas de Boé, também em Bissau. Foi Ministra da Educação Nacional e Presidente da Comissão Nacional para a UNESCO, Bissau. Investigadora Sênior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas, INEP-Bissau, foi muito recentemente Ministra da Saúde em seu país. Possui diversos trabalhos publicados em várias antologias literárias, jornais e revistas da especialidade na Guiné-Bissau e no estrangeiro.
Doutoranda em Letras na PUC Minas, contam-se, entre as suas obras publicadas, "Entre o ser e o amar" (poesia, Bissau: INEP, 1996); "SONNÉÁ histórias e passadas que ouvi contar I" (contos, Bissau: INEP, 2000) e "DJÉNIA histórias e passadas que ouvi contar II" (contos, Bissau: INEP, 2000); "No Fundo do Canto" (poesia Viana do Castelo: Edição da Câmara Municipal de Viana do Castelo- Portugal, 2003). Este último foi também publicado aqui no Brasil, em 2007, pela editora Nandyala, Belo Horizonte.

domingo, maio 25, 2008

Poesia Brasileira Contemporânea

O AMOR É CAMISA
Neide Archanjo*

O amor é camisa
que se carrega sobre o esqueleto
sem saber que por dentro
está cerzido o Tempo.

E passa o Tempo por dentro
das pedras não decifradas
dos mapas portugueses
do oceano que já foi mar
e antes rio
do assassinato do fundista solitário.

E passa o Tempo por dentro
de Publio Virgilio Marão
sonhando Enéias
de Ragusa no Adriático
dos navegantes de Urano e Netuno
de certos tons de abril
que será sempre e estranhamente
abril.

E passa o Tempo por dentro
do bisavô Affonso Donato
visitado por um anjo
no dia da sua morte.

E passa o Tempo por dentro
da Quinta Sinfonia de Mahler
das janelas de Veneza
dos 150 Salmos de Israel
e daquilo que se amou de verdade.

Passa o Tempo por dentro
desta página
como passa o incenso
por dentro do labirinto
de um relógio chinês.

*Poeta, advogada, psicóloga. Paulista, radicada no Rio de Janeiro. Estreou na poesia em 1964, com o livro "Primeiros Ofícios da Memória". Desde então, criou e participou de movimentos como "Poesia na Praça", varais de poesia, espetáculos em teatro, cafés, faculdades, bibliotecas, festivais nacionais e internacionais de poesia e arte. Criou e implantou a Oficina Literária da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. Foi bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian na qualidade de poeta residente, em Portugal. Seus poemas figuram em antologias nacionais e estrangeiras. É considerada pela crítica uma das autoras brasileiras mais significativas da geração que surgiu na década de 60. Foi assessora da Biblioteca Nacional e membro do Conselho Editorial da Revista "Poesia Sempre". Nos anos de 1980 e 2000 recebeu da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) os prêmios de poesia. Foi indicada para o prêmio Jabuti de poesia em 1995, pelo livro "Tudo é Sempre Agora". Os poemas de seu livro "Pequeno Oratório do Poeta Para o Anjo" foram gravados por Maria Bethânia. Possui onze livros publicados, sendo que "Soraya – uma princesa Sefardita" é edição bilíngüe, francesa. Em 2005, ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras. Em 2006, pela publicação de sua Obra Completa, comemorando 40 anos de poesia, obteve, pela segunda vez consecutiva, o prêmio de Poesia da Academia Brasieira de Letras, o Jabuti de Poesia e o Prêmio da Associação Brasileira dos Escritores.

domingo, maio 18, 2008

Poesia Africana (Angola)

PRESENÇA AFRICANA
Alda Lara*


E apesar de tudo,
Ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!

Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a Irmã-Mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto...

A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...

A do dendém
Nascendo dos braços das palmeiras...

A do sol bom,
mordendo o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
Salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11!... Rua 11!...) pelos meninos

de barriga inchada e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu
e corpo musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda, e sempre, nela,
aquela
Longa história inconsequente...

Minha terra...
Minha, eternamente...

Terra das acácias, dos dongos,
dos cólios baloiçando, mansamente...
Terra!
Ainda sou a mesma.

Ainda sou a que num canto novo
pura e livre,
me levanto, ao aceno do teu povo!

Benguela,1953 (In "Poemas",1966)

*Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque, nasceu em Benguela, Angola, a 9 de Junho de 1930 e faleceu em Cambambe a 30 de Janeiro de 1962. Era casada com o escritor Orlando Albuquerque. Ainda muito nova foi para Lisboa onde concluiu o 7.º ano do Liceu. Freqüentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última.
Em Lisboa esteve ligada a algumas das atividades da Casa dos Estudantes do Império. Declamadora, chamou a atenção para os poetas africanos. Depois da sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira, actual Lubango, instituiu o Prémio Alda Lara para poesia. Orlando Albuquerque propôs-se editar-lhe postumamente toda a obra e nesse caminho reuniu e publicou um volume de poesias e um caderno de contos. Colaborou em alguns jornais e revistas, incluindo a Mensagem (CEI).
Da sua obra poética destacam-se «Poemas» (1966, Sá de Bandeira, Publicações Imbondeiro), «Poesia» (1979, Luanda, União dos Escritores Angolanos), «Poemas» (1984, Porto, Vertente Ltda, poemas completos).

Fonte: www.sanzalangola.com

domingo, maio 11, 2008

Mãe x Tempo

Estava procurando uma gravura para anexar a esta mensagem que quero dedicar a vocês pelo Dia das Mães. Há uma infinidade de imagens de mães com suas crias. Imagens lindas em telas maravilhosas, que nos remete a uma singeleza singular, como um padrão do que é SER MÃE.

Escolhi, então, uma imagem menos canônica... Penso que, todas nós, mulheres contemporâneas, somos melhor representadas pela imagem do tempo, já que os tempos são outros. Há uma lacuna muito grande entre as mamães de séculos e décadas passadas e as mamães de hoje. É difícil conciliar o tanto de coisas que temos de fazer - e com perfeição! Não nos damos ao luxo de sermos imperfeitas! Embora vivendo nesta época em que a velocidade é soberana, e reina a facilidade de valores cada vez mais descartáveis.

Mas, ainda assim, nestes tempos modernos, de sentimentos conflitantes, há um sentimento que nunca será caracterizado como passageiro: o Amor Incondicional que uma mãe é capaz de oferecer.

Por isso, acho que tanto a imagem de Maria, mãe de Jesus, como a imagem do relógio (representando, aqui, a mãe faz-tudo dos dias atuais) pertencem ao mesmo campo semântico do SAGRADO...

Feliz Dia das Mães!!!

sábado, maio 10, 2008

Poesia Afro-Brasileira Contemporânea

RESGATE
Alzira Rufino*

Sou negra ponto final
devolvo-me a identidade
rasgo a minha certidão
sou negra
sem reticências
sem vírgulas
sem ausências
sou negra balacobaco
sou negra noite cansaço
sou negra
ponto final


*Na 3ª. série do Ensino Fundamental, Alzira Rufino recebeu seu primeiro prêmio de redação. Aos 14 anos, escrevia textos infantis para peças encenadas na escola. Aos 18 anos, num concurso de redação para funcionários da Santa Casa de Santos, foi a primeira colocada e recebeu prêmio, em dinheiro, do Banco Francês que patrocinou a atividade.
Lançou, em 1986, o Coletivo de Mulheres Negras da Baixada Santista.
Madrinha do Bloco Infantil Maria Infância com Crianças do Bairro do Mercado-Em 1987, criou o Coral Infantil Omó Oyá. Em 1988, criou o Grupo de Dança Afro Ajaína. Em 1990, fundou a Casa de Cultura da Mulher Negra.
Foi a primeira escritora negra a ter seu depoimento gravado no Museu de Literatura Mário de Andrade, em São Paulo, SP. Convidada da III Feira Internacional do Livro Feminista, realizada em 1988, no Canadá, onde participou de um painel internacional de escritoras negras e lançou o livro de poemas "Eu, mulher negra, resisto”, de sua autoria. Convidada da V Feira Internacional do Livro Feminista, na Holanda (l992) e da Feira do Livro em Paris (1993).
Profissional de saúde (enfermagem). Ativista e articulista do movimento negro e do movimento de mulheres. Coordena, desde 1990, um serviço de apoio jurídico ,e psicológico na Casa de Cultura da Mulher Negra, que atendeu, anualmente, cerca de 500 pessoas vítimas de violência racial, doméstica e sexual
Convidada de vários países como França, México, Canadá, Perú, Panamá. Equador, Chile, EUA, Inglaterra, Alemanha, India, Bélgica, África do Sul, Áustria, Itália e Holanda dando consultoria, capacitação, palestras sobre Violência Racial, Doméstica e Sexual, tendo um destaque na consultoria, avaliação e assessoria para Agências Internacionais em projetos de Casas Abrigo e Violência contra a Mulher na área rural em África do Sul nos anos de1997 e 1998. Editora da Revista Eparrei, criada em novembro de 2001, de periocidade semestral.
Publicações:
– Artigos em jornais da Baixada Santista, no Estado de SP e em revistas do Brasil, dos Estados Unidos, Canadá, Grã- Bretanha, Índia, França, Chile, Senegal e Holanda.
– Livros:
. Co-autora de Mulher negra tem história: Santos, SP; ed. Autora, 1987; O Livro da Saúde das Mulheres Negras. Jurema Werneck, Maisa Mendonça e Evelyn C. White (Org.) Pallas, 2000; Antologia “Finally us, publicação bilíngüe português/inglês”, com poetas negras do Brasil.
. Autora de: Mulher negra, uma perspectiva histórica: Santos, SP; ed. autora; 1987; Eu, mulher negra, resisto: Santos, SP; ed. ed. autora; 1987; Poesia: Muriquinho piquininho: Santos/SP; ed. Autora, 1989 (ficção para crianças); O poder muda de mãos não de cor: Santos, SP; ed. Autora, 1996; (estudo comparativo sobre a situação da mulher negra e da mulher branca na área de trabalho, educação e participação política), e Qual o quê! (ficção), ed. Autora.
Indicada ao Prêmio Mil Mulheres para o Nobel da Paz em 2005 Título de Cidadã Emérita da Cidade de Santos, Medalha de Mérito da Câmara Federal dos Deputados. Agraciada com cerca de 98 medalhas, Menção Honrosa e Diplomas incluse de Embaixadora da Cultura Negra pela OAB e PMDB-Santos Diploma de Mulher Negra Internacional pelo IBPN-Honra ao Mérito da Câmara Municipal de Ribeirão Pires-Troféu Mulher Destaque da Igreja Batista-Igreja Adventista -Diploma da Intecab-Baixada Santisa-.Homenagens das Mulheres na Africa do Sul-Cabo Verde-Moçambique-Angola-Londres-Paris -Homenagem do Clube Soroptimista Internacional de Santos como Mulher Destaque - Área Direitos Humanos/Status da Mulher .
2008-Livro :Eu Mulher Negra Insisto e não Desisto-(No Prelo)
• Foi tema de tese de doutorado de Dawn Duke, do Department of Hispanic Languages and Literatures, University of Pittsburgh, USA: "Alzira Rufino’ s Casa de Cultura da Mulher Negra as a form of female empowerment: a look at the dynamics of a Black Women’s organization in Brazil today”, 2003.

segunda-feira, maio 05, 2008

Um Cordel de Despedida

Aos professores e alunos
Do curso de Língua Portuguesa
Este cordel presta singela homenagem.
Trocamos experiências, quanta riqueza!
Aprendemos muito.
Mas não foi moleza!

"Que turminha boa, essa".
Ouvimos de quase todos os professores.
Era o que dizia a Cida,
E demais colaboradores.
E é a mais pura verdade,
Que se ouvia até pelos corredores.

Desde o primeiro encontro,
Foram sábados especiais.
E durante todo este ano
Nossa turma foi demais.
Houve logo entrosamento
E também cansaço, sono e tudo o mais.

Danada de competente,
Tivemos a Cida.
Muitas vezes ouvia: "Professora, libere a gente."
Mas não se dava por vencida
Dizia sempre:
"Vamos cuidar da vida".

Não podia ficar fora desta
Outra mestra: a Idalena.
Aprendemos um bocado
Com suas aulas plenas.
Quando acabou seu tempo
Foi, realmente, uma pena.

Com Zélia Versiani
Aprendemos leituras cruzadas.
Suas aulas especiais,
Primorosamente ministradas,
Com palavras e imagens geniais,
Eram, por todos nós, muito esperadas.

Delaine, também,
"Mandou bem o seu recado".
Como se costuma dizer
No sentido figurado.
Em suas aulas
Realizou um bom trabalho.

A mestra Consuelo falou sobre
O ensino de Gramática.
E também os passos de uma Resenha,
Na prática.
Os resultados, porém,
Deixaram-na apática!

Mas a vida de educador é assim...
E com o "seu" Bakhtin,
Veio, então, a Maria Ângela.
Aprendemos, enfim:
Gêneros textuais
É universo sem-fim.

Falemos, agora, do Gilcinei.
Entre subentendidos, pressupostos e dêiticos temporais,

O mestre da vez
Dava exercícios demais,
Que para o trabalho final
Foram vitais.

Juan Pablo
Para análise do discurso.
Nesta disciplina,
Quase fiquei no meio do percurso...
Vou tentar recuperar
No trabalho de final de curso.

Aprendemos com Carla Coscarelli
Que a tecnologia é sedutora,
E muito contribui para que a Educação
Se torne cada vez mais promissora.
Infelizmente, há quem a considere
"Adeus, professor; Adeus, professora".

Já ao final do curso tivemos a Else na Reescrita:
Uma das minhas disciplinas favoritas.
Consuelo, então, "pega carona"
E solicita:
"Revisemos as resenhas nas aulas da Else",
Ela habilita!!

Chegou, para o projeto de pesquisa,
A Tereza,
Que não tinha entrado na história.
Suas aulas, com certeza,
Muito nos ajudaram,
A concluir o projeto com clareza.

E, para todos nós,
Desejo um Feliz Natal.
E que se desatem todos os nós
Para um Ano Novo especial.
Querida turma da Pós,
Juntos, fomos fenomenais!


(Veronica - 16/DEZ/2007)

domingo, maio 04, 2008

O começo

Há dois “pontinhos”
Pulsando
Dentro de mim
Grávida
A Vida
Convida
Juliana e
Clara

Agora
Vejo luz nos olhos de Clara
Esperança nos olhos de Juliana
Nasceram unidas
Do ventre
Para a vida
Essas meninas
Minha Luz
Infinita
Minha vida
Reavida
Bem-vindas
Filhas
Tão, tão, Queridas

(Veronica - Jan/1999)

O computador e eu...

Achava que ter um blog era um bicho de sete cabeças. Não é. E aqui estou: conectada ao mundo!

O computador e eu nos conhecemos em 1990, quando trabalhava como secretária de diretoria, num escritório jurídico. A partir daquele momento tínhamos de trabalhar juntinhos, full time! Confesso que não foi nada fácil. A relação não era nada amigável da minha parte. Ele ficava ali, coitado, o tempo todo disponível, só esperando por um "carinho" meu. Relutei muito em aceitá-lo na minha rotina.

Na minha sala, tinha uma máquina de escrever "Olivetti", preta, linda, elétrica, de ultimíssima geração!!! Ela, sim, entendia perfeitamente a velocidade que eu precisava em meu trabalho.

Como a empresa investiu pesado naqueles novos equipamentos (computadores e impressoras) a chefia toda queria que fossem utilizados. Passaram a ser a menina dos olhos de todos naquele escritório. Aos meus olhos, porém, a "minha máquina" era ainda a melhor tecnologia. Mas, por ordens expressas e supremas, eu "tinha" de passar a trabalhar com "aquela coisa". Ô tempos difíceis aqueles! O papel sempre agarrava na impressora! Sim, porque não se usava papel "normal". Usávamos o que era chamado de formulário contínuo. Além disso, eu também tinha "problemas" no teclado: quase enlouqueci com tantos efes (do F1 ao F12!!) até decorar suas funções!

O mais engraçado dessa história é que eu sentia que aquela nova rotina, a qual eu "tinha" de me adaptar, parecia uma batalha - no exato sentido desta palavra. Era como se nós dois - aquela inovação tecnológica e eu - guerreássemos o tempo inteiro. Aquela nova máquina parecia brincar com a minha competência o tempo todo. Usando "aquilo" eu nunca conseguia entregar meu trabalho no prazo determinado.

Daí, voltei a teclar a minha boa e velha "Olivetti". Velha???!! Sim. Àquela altura do campeonato ela já era - definitivamente - obsoleta... Depois que voltei a usá-la percebi que a nossa relação tornara-se meio estremecida. Tentei fingir que estava tudo bem entre nós; que aquele "casamento" ainda seria possível. Mas os sentimentos já não eram os mesmos, pois já conseguia ver com bons olhos, por exemplo, o backspace ou delete do teclado do computador quando tinha de apagar uma letra ou frase ou até mesmo parágrafos inteiros de um texto. Vocês conseguem imaginar o tamanho da minha felicidade ao descobrir que não mais precisaria usar aquela folha de corretivo em pó? Não. Quem não é dessa época não pode dar a dimensão exata do que representou essa descoberta para mim.

Pude, finalmente, entender que tudo o que eu precisava para conseguir operar aquela "maravilha" era ter apenas um pouco de paciência, e estar aberta às mudanças que acompanham toda novidade. E o melhor de tudo isso foi ter entendido, também, que a máquina de escrever não deixou de existir, mas, apenas, ganhou um outro formato. Evoluiu. Assim como todas as invenções evoluem. Há sempre um "novo" a surgir.

Hoje, não trabalho mais como secretária. Sou educadora quase especialista em Língua Portuguesa com ênfase em Produção de Textos. E para seguir essa carreira, além de ensinar, há que se saber aprender. Pôr-se no lugar de aluno. Atualizar-se. E, nisso, a tecnologia digital é grande aliada. Nós, profissionais de educação, em qualquer área do conhecimento - mas principalmente os de língua materna – precisamos utilizar essa poderosa ferramenta. Precisamos aproveitar em sala de aula todos os benefícios que a tecnologia da comunicação vem oferecendo a todos nós.

Como vocês podem notar, eu também evoluí. Ao adquirir as habilidades necessárias para lidar com o "meu" computador, ficou muito claro, para mim, que jamais nos separaríamos.

Belo Horizonte, 30 de outubro de 2007

O que significa a palavra "blog"?



Pois é. Estava eu, ontem, à beira da piscina, conversando com uma amiga querida, Paula "Pastora", e toda orgulhosa falei que, agora, também estou "blogando". Paulinha ficou logo curiosa para saber o endereço do meu blog e tudo o mais...

Fazemos juntas uma pós-graduação em Língua Portuguesa, e, como minha amiga é bastante curiosa – no melhor sentido dessa palavra – inteligente e está sempre antenada, prontamente perguntou: O que significa blog? Gente!! Eu não sabia!!! Fui pesquisar e aí está, viu, Paulinha?

'O que significa blog?' Blog é a contração da expressão inglesa weblog. Log significa diário, como o diário de um capitão de navio. Weblog, portanto, é uma espécie de diário mantido na internet por um ou mais autores regulares. Normalmente apenas um, algumas vezes dois ou três, raramente mais que três. O primeiro blog surgiu em 1999. Mais ou menos. Há hoje mais de quatro milhões de blogs. Pense nisso. De um a quatro milhões em cinco anos." (HEWITT, Hugh. Blog: Entenda a Revolução que vai mudar seu mundo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2007)
(Veronica - OUT/2007)