sexta-feira, dezembro 10, 2010

Feliz Natal

("Natal Brasileiro", de Raimundo Nonato Oliveira)

NATAL

Mais um 25 de dezembro,
mais um Natal.
mais um ano, Cristo,
que nós, teus irmãos,
comemoramos teu nascimento
de modo quase obsceno!

Porque é Natal,
em teu nome
há uma corrida louca
ao centro comercial
em busca de presentes
que trocamos com os amigos,
com os parentes.
Sendo que muita gente
o significado desse ato
desconhece.

Porque é Natal,
há também os comes e bebes,
mas nada de simples croquetes,
frango assado ou espaguete.
Pelo menos, o peru e o bacalhau
são esperados...

Mas é Natal
e nessa epifania,
católicos ou ateus,
poucos atinam
que é teu o dia.

E então é Natal.
Mais um ano, Jesus,
que nós, teus irmãos,
ao te ver na cruz,
dizemos com muito orgulho,
e pouca reflexão...
- Nasceu para salvar o mundo,
esse menino!
Mas nesse mundo sem razão,
mesmo para o Divino
é tarefa assaz difícil
comungar guerra, paz e pão.

Há um Cristo, Jesus,
em cada um de teus irmãos
que sofrem as mesmas injustiças,
maus-tratos, ciladas,
e tantos e variados enganos,
sem teto, sem nada.
Sem alimento para o corpo
ou para a alma
cada um carrega sua pesada cruz.

Mas é Natal, afinal!
Tentamos todos seguir,
sem muita convicção, devemos admitir,
Tua doutrina de ética e de redenção.

Teremos nós, teus irmãos, alguma salvação?

(VB)

quinta-feira, novembro 18, 2010

Consciência Negra: para além da cor da pele...


“Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro...”

Gilberto Freyre,
Casa Grade e Senzala

sexta-feira, outubro 22, 2010

“As mulheres africanas tecem a vida”


Na África varrida pelas guerras, as mulheres sofrem as penas dos pais, dos irmãos, dos maridos, dos filhos destinados ao massacre e sabem, ainda, acolher os pequenos que ficam órfãos.
“As mulheres africanas tecem a vida”, escreve a poetisa Elisa Kidané da Eritréia.
Sem o hoje das mulheres, não haveria nenhum amanhã para a África.

Em virtude de toda essa luta e para reconhecer o papel de todas elas é que surgiu a proposta de lançar uma Campanha Internacional para dar o Prêmio Nobel da Paz de 2011, a todas as mulheres africanas. Trata-se de uma proposta diferente, já que esta não é uma campanha para atribuir o Nobel a uma pessoa singular ou a uma associação, mas sim, um Prêmio Coletivo, a todas essas guerreiras.

(Aqui)

terça-feira, outubro 12, 2010

Dia das Crianças


Escolhi este poema da minha poeta preferida, Cecília Meireles, numa homenagem a todas as crianças do mundo e a sua extraordinária capacidade de sonhar, independente da realidade em que vivem...


A Bailarina
Cecília Meireles


Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para lá e para cá.

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.

(Do livro Ou Isto ou Aquilo. pp. 24)

UM POETA E UM POEMA (9)

Vera Duarte nasceu em Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, em 1952. É juíza desembargadora e foi ministra da Educação. Dentre os prêmios literários, destacam-se Tchicaya U Tam'si de Poesia Africana 2001 e o SONANGOL 2003 pelo romance "A Candidata". Publicou em poesia "Amanhã Amadrugada" e "O Arquipélago da Paixão", entre outros artigos e ensaios.

(Informações tiradas daqui.)
(Foto daqui.)



Momento VI
(desabafo)

Vai e grita pelas achadas imensas
que a vida se conquista
contra a violência e a morte.

Diz
do amor que brota das areias
do mar solitrário
do abraço fecundo que nasce
dos confins de nossos seres.

Diz tudo
mas não digas que te amei
-- e amo --
pois chega-me a morte pela recusa.
Não quero morrer duas vezes!

(In, Poesia Africana de Língua Portuguesa: antologia. I Dáskalos, Maria Alexandre. II Apa, Livia. III Barbeitos, Arlindo. - Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2003. pp. 167) 

domingo, outubro 10, 2010

Pense nisto...

"A loucura é vizinha da mais cruel sensatez. Engulo a loucura porque ela me alucina calmamente. O anel que tu me deste era de vidro e se quebrou e o amor não acabou, mas em lugar de, o ódio dos que amam."

Clarice Lispector



(In, "Tempestade de Almas", do livro Onde Estivestes de Noite. Ed. Rocco, 1999, pp. 91)

quarta-feira, outubro 06, 2010

FLIPORTO 2010


foto daqui


O COMEÇO

Há dois pontinhos
pulsando
dentro de mim
Grávida
a vida convida
Juliana e Clara

(VB)

Esse poema fará parte de uma coletânea dos cem melhores poemas escolhidos neste concurso.

quarta-feira, agosto 04, 2010

"SOB O SIGNO DO AR"



Imagem disponível no Google Imagens

“SOB O SIGNO DO AR”
(para Christina Ramalho)

Sob o signo do ar,
filha de Dédalo,
irmã de Ícaro,
– mas não tão louca! – é ela quem diz.

Chris tem algo de pássaro.
Abre suas asas,
pousa de galho em galho.
Segue feliz.

Chris tem algo de Sininho.
Seu sorriso sincero
é seu pó de pirlimpimpim,
que generosamente espalha,
e, a todos, assim,
encanta por onde passa.

Chris tem algo de borboleta.
Na leveza de suas asas
carrega cores variadas.
Entre tintas e pincéis
ou “bordando palavras”,
semeia ao vento matizes
profundas e delicadas.

Outrora em voos rasantes
entre Natal e Rio,
ou os mais ousados,
para além do Brasil.

Na Espanha, emprestou aos mares e céus
todo azul dos olhos seus.

Sempre pronta para voar,
tinge agora os céus de Sampa
todo azul do seu olhar.

(VB)

BH, agosto/2010

domingo, junho 13, 2010

UM POETA E UM POEMA (8)

Maria Manuela de Abreu Maia nasceu em 1939, em Bela Vista, Huambo, Angola.

Em 1975 mudou-se para Portugal. Para além de funcionária pública, Manuela Abreu colaborou em "Panorama de Artes e Letras" do Diário de Luanda, em "Artes e Letras" d'A Província de Angola e "Convergência" de Ecos do Norte. Publicou, em 1994, o livro de poesia Em Cada Manhã de Longe. (Informações tiradas daqui).

E Pede o Silêncio

Espero na praia
as ondas, a espuma
e chagam-me conchas,
presentes de bruma
e barcos azuis
com lemes de além
destinos de praia
e de olhos também.

E a noite me vê
ainda a esperar
que tragam poemas
dos livros do mar
teus barcos azuis
que chegam agora
à praia dos olhos
à praia que chora.

E pede o silêncio
urgente que saia
dos olhos de barco
meu corpo de praia.

(In Cadernos Sol n. 12. Coletânea de poetas e poesia de Angola. Caxinde Editora e Livraria. 2002).


quinta-feira, junho 10, 2010

SACIEDADE DOS POETAS VIVOS


Lançado oficialmente hoje, 10 de junho, mais um "Saciedade dos Poetas Vivos". Trata-se de uma Antologia Digital, já em seu décimo volume!, publicado pela Editora Blocos. Sendo uma temática diferente para cada volume, o tema da vez -- às vésperas do Dia dos Namorados-- não podia ser outro: "Beijos".

Conforme dizem os prefaciadores (e também editores de Blocos) Urhacy Faustino e Leila Míccolis "Beijos de todo o jeito e tipo e modos e maneiras: de saudade, de alegria, de tristeza, de Judas, de partida, de chegada, de rompimento, de adeus, roubado, tímido, falso, amargo, indiferente, calculista, formal, romântico, real, sonhado, respeitoso – na testa – o apressado selinho, o ardente, o indesejado, o mordido, o de amigo, o evitado, o de mãe e filho, e tantos mais.

Melhor, porém, é adotarmos aqui o pensamento de Dalton Trevisan: "Não fale, amor. Cada palavra, um beijo a menos". Por isto, sejamos breves, pois quanto mais falarmos de beijo, mais adiaremos o prazer por parte do leitor de ser beijado pela poesia."

Neste volume, participam, além de mim, 16 autores.

Agora é só acessar aqui e boa leitura!

domingo, junho 06, 2010


Teus beijos
ora suaves, ora intensos
exploram montes, grutas
e relevos
do corpo que arde
e explode
ao sabor dos teus beijos

(VB)

sábado, maio 08, 2010

Feliz Dia das Mães!


Para sempre
(Carlos Drummond de Andrade)

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

terça-feira, abril 20, 2010

UM POETA E UM POEMA (7)

CRISTIANE SOBRAL nasceu no Rio de Janeiro, em 1974, e reside em Brasília desde 1990. Como escritora, possui poemas e contos publicados na Antologia Cadernos Negros, edições 23, 24, e 25. Graduada como atriz habilitada em Interpretação Teatral pela Universidade de Brasília, sendo a primeira negra a ganhar o título acadêmico.
          Trabalha preferencialmente a poética do amor, da desrepressão e do acesso à consciência. Sua poesia inspira-se na experiência, na observação do comportamento, na mudança de atitude.

Fratricídio
(Cristiane Sobral)

Corrupção preta dói demais
Chibatada dentro da senzala fere infinitamente.
Até tu, Zumbi?
Espera aí, Feitor!
"Pouca tinta", eu?

Separe todos os matizes da negritude brasileira
Desintegre todas as identidades
Ficaremos com um nada aguado.
O mestiço não é nem o sim nem o não, é o talvez.
Mentira!

Pergunte ao porteiro da prédio
Interrogue o policial
Eles não terão dúvida em apontar a consistência da
minha melanina.

Sou negra
Meus dentes brancos trituram qualquer privilégio
retinto
Meu sangue negro corrói a hipocrisia parda
Mela o mito da democracia racial
Corre maratonas libertárias negrófilas
Rasga as entranhas e reluz.
Das cinzas à fênix.

No fundo do olho há uma verdade viva
Muito além da cor.

------------------------------------------

Lente de Contato

Será que você pode olhar no fundo dos meus olhos?
Será que você pode acreditar na sua visão?
Esquece o que o seu pai disse,
Vê se muda essa situação.

Sou negra!
Estou aqui diante dos seus olhos,
Esperando você despir o seu preconceito,
Pra gente encontrar um jeito de ser feliz.

Ah, o meu cabelo natural, isento de culpa?
Vai bem, obrigada.

Que bom você ter sido espetado pela consciência,
Que bom você ter sido cutucado pela consistência.

Será que dá pra você tirar essa lente distorcida,
Que tanto atrapalha o nosso contato?

In: Cadernos Negros Volume 29: poemas afro-brasileiros. pp 51 e 52 / organizadores Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2006.

Foto e informações bibliográficas tiradas daqui e daqui.

quinta-feira, abril 15, 2010

BLOCOS ONLINE: Campanha


Por acreditar neste site como uma fonte --generosa e democrática-- de conhecimentos referentes às diversas formas de arte, repasso aqui a campanha que Blocos online vem fazendo para manter 'on line' o portal que é considerado um dos sites mais importantes do mundo pela UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.

Campanha de Blocos
Depois de oito anos sendo mantido pela iniciativa privada, em 2010 Blocos Online não encontrou uma empresa que o patrocinasse, obrigando-nos, desta forma, a recorrer (como fez a Wikipédia) à você, nosso leitor.
Ficaremos pelos próximos cinco meses — até agosto — recebendo doações a fim de conseguir fundos necessários para a manutenção do portal, medida que, de certa forma, é também uma forma de verificar a importância de um dos maiores portais de poesia do Brasil para você.
Não estipulamos valor prévio para os depósitos, que deverão ser feitos através da conta corrente: 16300-7 Agência 2143 Banco Bradesco (nº 237), em nome de Blocos Editora, Assessoria, Consultoria e Produções Artística Ltda., CNPJ 30123830/0001-77. Solicitamos que o comprovante seja escaneado e nos enviado por e-mail para: blocos@blocosonline.com.br
Disponibilizaremos lista de doadores e também, para doação acima de R$ 500,00 (quinhentos reais), caso o doador queira, poderemos emitir nota fiscal em favor do contribuinte ou de sua empresa.
Certos de que poderemos contar com o apoio de todos, inclusive na divulgação desta campanha — o link desta página é: http://www.blocosonline.com.br/home/conteudo/campanhablocos.php
agradecemos.
Os editores
 

terça-feira, março 16, 2010

UM POETA E UM POEMA (6)

Alda Espírito Santo, figura de primeira linha na luta pela independência são-tomense, faleceu no último dia 09 de março, em Luanda, aos 83 anos.
Nascida em abril de 1926, Alda Espírito Santo, também conhecida por Alda Graça, foi educada em Portugal e é uma figura emblemática da luta pela independência de São Tomé e Príncipe. Foi pela causa nacionalista que interrompeu os estudos universitários.
Depois da independência, manteve-se como destacada figura política, desempenhando cargos de ministra da Educação, da Cultura e da Informação, de deputada e de presidente da Assembleia Popular.

Humanidade
(Alda Espírito Santo)

Quando o homem de todos os planetas
For capaz de se revelar
À altura do outro ser humano

No ciclo da existência
E compreender,
       Compreender
Que todos os seres vivos
São iguais
No nascimento na morte
E nas estruturas físicas
Que compõem a humanidade

Nesse dia, será uma festa eterna
E o sol
Rodará finalmente
À volta de todos os continentes.

Compreender será então:
Dar vida real
A todos os seres dos planetas viventes

Planetas chamo eu
Às esferas humanas
Sem corredores estanques

(In: É nosso o Solo Sagrado da Terra: poesia de protesto e luta. 1978, pp.45-46)

Informações bibliográficas e foto tiradas daqui.