Conceição Evaristo*
A voz de minha bisavó ecoou
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
De uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha recorre todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
* Maria da Conceição Evaristo de Brito, nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1946. Em 1973, depois de ter concluído, em 1971, o antigo Curso Normal pelo Instituto de Educação de Minas Gerais, presta concurso no Rio de Janeiro e se ingressa no magistério público. É graduada em Letras (Português-Literatura) pela UFRJ. É mestre em Literatura Brasileira pela PUC/RJ e Doutoranda em Literatura Comparada na UFF. Esteve como palestrante em 1996, nas cidades de Viena e de Salzburgo/Áustria e, em 2000, Mayagüez, Porto Rico, falando sobre Literatura Afro-brasileira.
Seus poemas são publicados, anualmente, desde 1990, na coletânea Cadernos Negros, do grupo Quilombhoje.
Publicou dois romances intitulados “Ponciá Vivêncio” (2003) e “Becos da Memória” (2006).
Seus poemas são publicados, anualmente, desde 1990, na coletânea Cadernos Negros, do grupo Quilombhoje.
Publicou dois romances intitulados “Ponciá Vivêncio” (2003) e “Becos da Memória” (2006).
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