segunda-feira, dezembro 28, 2009

FELIZ 2010 !!

A mensagem é de Natal, mas, como toda boa poesia, acalenta a alma em qualquer época do ano.
Espero que a noite do Natal tenha sido boa para todos vocês, e que em 2010 tenhamos colheita farta de tudo o que plantamos em 2009.















Leia aqui sobre o autor

domingo, dezembro 06, 2009

UM POETA E UM POEMA (5)

Jornalista, nascida em São Paulo em 1958, Esmeralda Ribeiro faz parte da Geração Quilombhoje, que atua nos movimentos de combate ao racismo e na construção de uma ‘Literatura Negra’, a partir do resgate da memória e das tradições africanas e afro-brasileiras. A autora participa regularmente de Seminários e de Congressos nacionais e internacionais, sempre apresentando estudos sobre escritoras afro-descendentes, com o objetivo de incentivar uma maior atuação da mulher negra na literatura. Nos anos 80, foi das poucas mulheres a integrar as discussões do I e do II Encontros de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros: “quero falar de ‘nós’ porque o tempo sempre nos deixou atrás das cortinas, camuflando-nos geralmente em serviços domésticos. Agora, o tempo é outro. É desse tempo que vou falar”. (Criação crioula, nu elefante branco, p. 59)

OLHAR NEGRO
Esmeralda Ribeiro

Naufragam fragmentos
de mim
sob o poente
mas,
vou me recompondo
com o Sol
nascente,

Tem
Pe
Da
Ços

mas,
diante da vítrea lâmina
do espelho,
vou
refazendo em mim
o que é belo

Naufragam fragmentos
de mim
na coca
mas, junto os cacos, reinvento
sinto o perfume de um novo tempo,

Fragmentos
de mim
diluem-se na cachaça
mas,
pouco a pouco,
me refaço e me afasto
do danoso líquido
venenoso

Tem
Pe
Da
Ços

tem
empilhados nas prisões,
mas
vou determinando
meus passos para sair
dos porões

tem
fragmentos
no feminismo procurando
meu próprio olhar,
mas vou seguindo
com a certeza de sempre ser
mulher

Tem
Pe
Da
Ços,

mas
não desisto
vou
atravessando o meu oceano
vou
navegando
vou
buscando meu
olhar negro
perdido no azul do tempo
vou
vôo,
 
(In: Cadernos negros: os melhores poemas, pp. 64-6)

Informações bibliográficas tiradas daqui
Foto tirada daqui

quinta-feira, outubro 29, 2009

Pense nisto...

"O tráfico negreiro transatlântico é a maior tragédia da história da humanidade, por sua amplitude e duração."

Jean-Michel Deveau
Foto tirada daqui

terça-feira, outubro 27, 2009

UM POETA E UM POEMA (4)

No poema "Os herois", Conceição Lima recorre às lembranças do passado para onde "recuam em silêncio as estátuas". A poeta convida o leitor a uma reflexão sobre a realidade de seu país no período pós-independência, uma vez que vinte e nove anos se passaram (o poema foi tirado do livro "O útero da casa", de 2004), mas alerta para o fato de que boa parcela dos "mortos que morreram sem perguntas", através de seus descendentes "regressam devagar de olhos abertos".

E, enquanto as estátuas silentes são reconhecidas pela "praça" por seus feitos valorosos, em "paisagens longínquas", os verdadeiros herois, os santomenses do dia-a-dia, clamam pelo resgate à dignidade "indagando por suas asas crucificadas". Onde está a tão sonhada, almejada, batalhada liberdade que a independência traz? Ou, pelo menos, deveria trazer...

Os Herois
Conceição Lima

Na raiz da praça
sob o mastro
ossos visíveis, severos, palpitam.
Pássaros em pânico derrubam trombetas
recuam em silêncio as estátuas
para paisagens longínquas.
Os mortos que morreram sem perguntas
regressam devagar de olhos abertos
indagando por suas asas crucificadas.

Sobre a autora: Maria da Conceição Costa de Deus Lima, em 1961, nasceu em Santana, na ilha de São Tomé, onde fez os estudos primários e secundários. Estudou jornalismo em Portugal, Em São Tomé e Príncipe trabalhou e exerceu cargos de direção na rádio, televisão e na imprensa escrita, tendo fundado, em 1993, o já extinto semanário independente "O País Hoje".
Atualmente reside Londres, onde trabalha como jornalista e produtora dos serviços de Língua Portuguesa da BBC.

Referência: LIMA, Conceição. O útero da casa. Lisboa: Caminho, 2004.

quinta-feira, outubro 01, 2009

UM POETA E UM POEMA (3)

A poeta da vez é Christina Ramalho. Carioca, nascida em 1964, a Chris é mestre e doutora em Semiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Além de artista plástica (dona de belíssimas pinturas!), é também escritora de mão cheia: ensaísta, cronista, contista, poeta, crítica literária, tendo vários livros publicados.

Foi minha professora de Literatura no curso de Letras. É, para mim, um exemplo de profissional e, acima de tudo, de ser humano. (Imagem tirada daqui).

Sina
(Christina Ramalho)

Mundo, mundo, vasto mundo,
e eu que me chamo Raimunda,
feia de cara, boa de bunda,
terei uma solução?
Será que esta minha sina
de guardar a forma feminina
deixa mostrar em meu verso
quão vasto é o meu coração?

Na face trago as lágrimas
de cebolas e de paixões
e minhas pernas, fumês e amarelas,
passam no bonde das estações.
Amo inventando penas,
me ensinaram a amar assim...
Mundo, mundo, vasto mundo,
o que será que será de mim?

Peço a Deus que me conceda
nada pedir tudo ver.
Duro viver nesta terra estranha
onde ter entranhas faz padecer.
Vasto, vasto, mundo vasto,
te pergunto e me desgasto:
se o versejar é meu pasto,
terei eu o que comer?

Espero resposta deitada
de flanco sobre o lençol,
nos sonhos eu viro onda
e o sonho é meu farol.
E se disseres - levanta! -
levanto e vou para a faxina.
E se disseres - derrama! -
derramo em versos minha sina.

Mundo, mundo, amargo mundo...!
Mas doce é minha intenção
de velar tua amargura
com rimas de compreensão.
Mundo, mundo, amargo mundo,
não veja nisto submissão.
O que eu quero é uma voz
gritando suave como canção.


(In A Lírica Brasileira do Século XX, p. 136, de Anazildo Vasconcelos da Silva).

Saiba mais sobre a autora aqui e aqui

quarta-feira, setembro 16, 2009

UM POETA E UM POEMA (2)

Noémia de Sousa (1926-2002) – Moçambique

Noémia deixou Maputo com destino a Lisboa em 1951, tendo dali emigrado para Paris em 1964. Regressou a Lisboa em 1975, onde residiu e trabalhou como jornalista e tradutora até o seu falecimento em dezembro de 2002.[1]

Seu poema Magaiça[2] aponta para o trabalhador moçambicano que emigrava para as minas do Rand ou compounds (áreas de exploração) da África do Sul. Sonhando com uma vida melhor, retorna à terra na condição em que partira, miserável como sempre.

No contexto dos anos 40-50, a poesia funcionava como testemunho de uma condição humana e denúncia social e política, ainda que sob a forma de lamento ou piedade, pois era a fase da “poesia de combate”. Havia nesse período uma conscientização plena da Negritude --contrária à estética burguesa e imperialista-- que Noémia assume num interessante jogo linguístico: utiliza estrangeirismos para identificar uma tentativa de aculturação que não vingou (“o ser deslocado / embrulhado em ridículo”); a língua portuguesa, a do colonizador, para que essa denúncia pudesse atingir um grande número de leitores; e a língua materna, a língua da infânica, deixando claro que África é o seu lugar.

Magaíça
(Noémia de Sousa)

A manhã azul e ouro dos folhetos de propaganda
engoliu o mamparra
[3],
entontecido todo pela algazarra
incompreensível dos brancos da estação
e pelo resfolegar trepidante dos comboios,
tragou seus olhos redondos de pasmo,
seu coração apertado na angústia do desconhecido,
sua trouxa de farrapos
carregando a ânsia enorme, tecida
de sonhos insatisfeitos do mamparra.

E um dia,
o comboio voltou, arfando, arfando...
oh nhanisse
[4], voltou!
E com ele, magaíça,
de sobretudo, cachecol e meia listrada
e um ser deslocado,
embrulhado em ridículo.

Às costas -- ah, onde te ficou a trouxa de sonhos, magaíça? --
trazes as malas cheias do falso brilho
dos restos da falsa civilização do compound
[5] do Rand[6].
E na mão,
magaíça atordoado acendeu o candeeiro,
à cata das ilusões perdidas,
da mocidade e da saúde que ficaram soterradas
lá nas minas do Jone
[7]...

A mocidade e a saúde,
as ilusões perdidas
que brilharão como astros no decote de qualquer lady
nas noites deslumbrantes de qualquer City.


[1] Informações biográficas retiradas de http://koluki.blogspot.com
[2] Magaíça - mineiro moçambicano regressado da África do Sul
[3] Mamparra - pessoa rústica
[4] Nhanisse - deveras, na verdade
[5] Componde - os acantonamentos ou «reservas» de trabalhadores na África do Sul (do inglês compound); barracão, camarata
[6] Rand - (top. sul-afr.) Unidade monetária principal da África do Sul e da Namíbia
[7] Jone - abreviatura de Joanesburgo = Djoni (= John, Johne) - minas do Rand.

sábado, agosto 08, 2009

UM POETA E UM POEMA

Inicio hoje uma série que chamarei "Um poeta e um poema".


Ana de Santana é a poeta de estreia com um belíssimo poema que denuncia um tempo obscuro de guerra e de violência do qual foi vítima. Apesar de tanto sofrimento, o último verso de "Ralhete" nos dá uma pista clara da sensibilidade e pureza de sentimentos que não se abalam.

Ralhete
(Ana de Santana)

Não me cobres
histórias de adormecer
quando o obus
rebenta no quintal
não me peças luz
se as janelas estão trancadas
não me lembres dos traumas
nem fales de fantasmas
quando eu sonho com
todos os companheiros
que sinto perder na batalha
a cada tempo
não me perguntes sobre o amor
que não tive
nem pelo coração, que esse,
faz tempo, jaz gelado
na granada do meu peito.
Porque procuras os meus olhos
se há muito foram perfurados
pelos estilhaços?
Como te atreves a querer
que te dê a mão se ainda agora
a ofereci em troca de pão?
E, sobretudo, não me perguntes
pelo que não disse
pois a minha boca
há muito se fechou à força
do fuzil do homem
que em mim te semeou.

Sobre a autora: Ana de Santana é consultora e vive actualmente entre Londres e Lisboa, publicou «Sabores Odores & Sonho», poesia, União dos Escritores Angolanos (UEA), 1985. Leia mais


sexta-feira, julho 17, 2009

Sisters in Spirit

Este é mais um belíssimo trabalho que posto aqui de Monica Stewart, uma artista plástica norte americana, da Califórnia. Econtrei-a aqui quando procurava gravuras de temas africanos para "dar acabamento" a um trabalho de final de curso.


Dedico este post especialmente à Koluki , minha 'irmã em espírito', e à Sailor Girl, uma blogger que também muito considero e respeito. Visitar a 'casa' de ambas é sempre um momento prazeroso.


Um beijo carinhoso as duas


segunda-feira, julho 06, 2009

PRÊMIO LEMNISCATA


“O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogues que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores.»

Sobre o significado de LEMNISCATA: «curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante».

Lemniscato: ornado de fitas Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores. (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora)

O símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.”

Numa demonstração INFINITA de amizade e carinho recebi, da mAna KOLUKI, esse prêmio.

Gostaria de passar a corrente a três lindas (no sentido mais amplo dessa palavra) bloggers:

sábado, julho 04, 2009

"Amado Michael"

Poesia de Tom Zé em homenagem a Michael Jackson.


Negro da luz que desbota branco
Tanto talento tormento tanto
Tanta afronta de pouca monta.

Eia! virtudes em farta ceia
Todo encanto que pode o canto
Toda fiança que adoça a dança.

Que deus nos furta vida tão curta?
Mundo lamenta: ele mal cinquenta!
A ninguém ilude essa bruxa rude.

Paroxismo desse Narciso
Que achou desgosto no próprio rosto
E apedrejou-se com faca e foice.

Avança a rua (uma dor que dança)
E em seus telhados mandibulados
Requebra os hinos do dançarino.
Niños, rapazes, se sentem azes
Herdeiros todos e seus parceiros
Revelam parque, porto e favela.

II

Da Grécia três te trouxeram Graças
Arcas repletas de belas artes
Arcas que deram ciúme às Parcas.

Que luz trarias tu, mitologia,
Para um tal desatino de destino
Que o espandongado toma por fado?

Porque o povo grego disse que
Se a hybris o herói consigo quis,
Se condiz ao lado dela ser feliz
Ele mesmo será pão e maldição
Enquanto gera para os olhos de Megera.


http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u587877.shtml


Sobre o autor: Tom Zé, nome artístico de Antônio José Santana Martins, nasceu em Irará, Bahia, em 11 de outubro de 1936. É compositor, cantor e arranjador, sendo considerado uma das figuras mais originais da música popular brasileira. Participou ativamente do movimento musical conhecido como 'Tropicália' nos anos 1960 e se tornou uma voz alternativa influente no cenário musical do Brasil. A partir da década de 1990 também passou a gozar de notoriedade internacional, especialmente devido à intervenção do músico britânico David Byrne.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Tom_Ze)

domingo, abril 12, 2009

"Caruso", numa belíssima interpretação de Zizi Possi

Esta AQUI é especialmente dedicada a uma amiga, virtual, por enquanto. Uma pessoa a quem muito admiro. É forte e sensível, e, acredito, por isso, escreve com maestria...
É para você, KOLUKI, com todo meu carinho. Espero que goste!

"Ave Maria", de Charles Gounod, por Jorge Aragão

Fantástico este arranjo de Jorge Aragão para a "Ave Maria" de Gounod! O erudito e o popular divinamente juntos!
Como alguém já disse, com o que concordo plenamente, só a arte nos salva...
Então, deixo aqui a todos vocês o meu desejo de uma Páscoa Feliz.
Happy Easter to you all!

segunda-feira, março 16, 2009

"Podres Poderes", música de Caetano Veloso

Essa música foi lançada há exatos 25 anos, mas seu tema é sempre recorrente e atual.

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais...

Queria querer gritar
Setecentas mil vezes
Como são lindos
Como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais...

Será que nunca faremos
Senão confirmar
A incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que esta
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval...

Queria querer cantar
Afinado com eles
Silenciar em respeito
Ao seu transe num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau...

Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais
Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais...

Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo
Indo e mais fundo
Tins e bens e tais...

Será que nunca faremos
Senão confirmar
Na incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que essa
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...

Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades,
Caatingas e nos gerais...

Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...

Enquanto os homens
Exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais
Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo...

Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!

domingo, março 15, 2009

"Incoerência católica"

"Os males que a igreja causa em nome de Deus vão muito além da excomunhão de médicos".
Simplesmente fantástica a posição do Dr. Drauzio Varella, em seu artigo Incoerência Católica, publicado no jornal Folha de São Paulo, sobre a posição da igreja no caso da menina de 9 anos, que vinha sendo, por três anos!, molestada sexulamente pelo padrasto até conseguir engravidá-la de gêmeos.
No texto, como sempre, impecável, o doutor aponta sua indignação não somente como médico, mas também --e sobretudo-- como ser humano. E humanidade foi exatamente o que faltou à igreja...
Tudo já foi dito sobre esse assunto. Quero apenas deixar claro (para quem leu o post de 09/03) que a excomunhão em si, para mim, nada significa. Absolutamente nada. A indignação é pela falta de "cuidados" (para ser bem amena) de um legítimo(?) representante de Deus, para com sua comunidade.
(Conheça o autor)

segunda-feira, março 09, 2009

Os pecados da Santa Igreja


Estou, infelizmente, por várias razões, algum tempo afastada deste espaço. Gostaria de voltar, neste dia dedicado à mulher, postando um poema ou qualquer outro tipo de expressão artística, que é ao que se destina este blog.

No entanto, hoje, no Dia Internacional da Mulher, preciso registrar minha indignação sobre o caso da menina de 9 anos!!, violentada sexualmente e engravidada de gêmeos pelo padrasto, na cidade de Alagoinha, interior de Pernambuco. O monstro, que molestava continuamente a menina desde seus 6 anos e também a irmã de 14 – deficiente física e mental –, ainda teve a ousadia de dizer que as meninas o “provocavam”!

Sabemos que monstruosidades como essa acontecem, todos os dias, pelo mundo afora. Mas este caso, em especial, horroriza não apenas pela crueldade de um crime hediondo, como também pela atitude, no mínimo, pecaminosa da Igreja Católica: fielmente representada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungou a mãe da menina por ter permitido interromper a gravidez da filha.

Sendo que os médicos que acompanharam o caso concluíram que somente o aborto salvaria a vida daquela criança subnutrida e franzina. Isso sem contar que, tendo (apenas!!) 9 anos, e, portanto, com os órgãos ainda em formação, não suportaria carregar mais duas crianças em seu pequenino ventre.

Mas essa, ainda, não era uma razão suficientemente forte para a Santa Igreja Católica que, na pessoa de dom José, puniu também os médicos pelo crime de aborto. (É importante dizer que, em momento algum, dom José sequer mencionou o estuprador). Para dar a “última paulada”, num comentário aterrorizador, disse ainda que o crime de aborto é pior do que o de estupro.

Diante desse absurdo, fico aqui me perguntando: para quem, neste caso, o crime de aborto é pior? Quem determina isso? É Deus? Ou são os homens da Santa Igreja?

Não discuto a posição da Igreja ser contrária ao aborto. Envolve princípios. Mas temos de pensar, antes de tudo, que cada caso é um caso. Temos de pensar e agir, antes de tudo (uma vez que a menina corria risco de morrer) com misericórdia. Não é isso que prega a Igreja? Neste caso, ao excomugar mãe e equipe médica, a Igreja Católica, mais uma vez na sua história, transgrediu suas próprias leis. E, pecou.