Estive ausente deste espaço durante todo o mês de julho, mas foi por um motivo justo: tive de entregar o trabalho final para a conclusão do curso de pós-graduação em Língua Portuguesa. O tema do meu artigo foi a poesia feminina afro-brasileira e africanas de língua portuguesa, cujo objetivo principal era verificar o discurso comum presente entre as seis poetisas estudadas. Infelizmente, apenas uma de cada país, por absoluta falta de espaço: o texto deveria ter, no máximo, vinte e cinco páginas.
As poetisas selecionadas foram: Alda Lara, de Angola; Alzira Cabral, de Cabo Verde; Odete Semedo, da Guiné-Bissau; Noémia de Sousa, de Moçambique; Manoela Margarido, de São Tomé e Príncipe e, por fim, Conceição Evaristo, do Brasil.
Com essa pesquisa aprendi um pouco mais sobre África e sua literatura. Apesar de todos os pesares que rondam o Continente Africano há, pelo menos, cinco séculos - e mesmo agora em tempos de independência - é sempre fascinante conhecer as raízes e a cultura desses povos que os livros de História pouco, ou quase nada, revelam.
Num dado ponto da minha pesquisa, li a seguinte frase que me deixou indignada: “a mulher é o negro do mundo”. Só neste momento é que atinei para o fato de que o meu trabalho, mais do que uma pesquisa, seria um desafio. E foi.
A realização desse trabalho permitiu-me concluir, com alguma tristeza, o quão incipientes são a literatura africana e a afro-brasileira, sobretudo a produzida por mulheres...
A literatura negra contemporânea, tanto em África portuguesa como no Brasil, ainda não tem o estatuto de “literatura oficial”. Infelizmente, essa literatura ainda não é suficientemente visível e nem reconhecida – pelo menos não o tanto que merece – pelos chamados “altos círculos literários”.
A poesia negra em geral só começou a ser publicada muito recentemente no Brasil: a partir dos anos 70. Coincidentemente – ou não(?) – é a mesma época de luta pela libertação colonial em África. Nesse ponto da história, o brasileiro afrodescendente assume com mais veemência sua Negritude, direcionando seus discursos de liberdade contra um sistema de total preconceito contra esse povo.
Assim como o africano o afro-brasileiro solta a voz contra as injustiças sociais sofridas ainda pelos resquícios da escravidão – um passado que teima em não passar! – e expressa sua revolta através da poesia.
As vozes-mulheres estudadas na pesquisa apresentam em comum a recuperação da dignidade perdida, de procura e de afirmação da identidade nacional: tanto as poetisas afro-brasileiras como as africanas, cada uma a seu modo, cada uma com seu estilo próprio, com sua voz única e específica.
O discurso comum aos dois continentes, nos seis poemas analisados, é o de mulheres socialmente engajadas, em busca do “eu” mais profundo e verdadeiro, em busca de suas raízes, num mergulho nas profundezas turbulentas de um passado “hediondo”, “inconseqüente” que insiste em se fazer presente...
O sentido de africanidade também é muito presente no discurso dessas mulheres; é tema recorrente um querer “ser africana”. Escrevem uma “realidade” que se revela repleta de dor, mas também de resistência. O eco dessas vozes-mulheres, africanas e afro-brasileiras, ressoa cada vez mais forte, em busca, de uma vez por todas, de “liberdade, ainda que tardia”.
Um comentário:
Parabens pelo que, ao que tudo aqui indica, e' um excelente trabalho!
Quando sera' publicado?
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